(Crucifixion of St Peter, Michelangelo) Fonte: (http://pinturasrenascentistasgam.blogspot.com/2015/05/pinturas-renacentista.html)
A filosofia da arte submete-se àquilo que é seu objetivo, ao crivo da critica filosófica.
O ato poietico, campo da criação, e por meio da qual se introduz o novo a ser contemplado. A filosofia da arte toma a arte como objeto e se difere da estética justamente pelo fato da estética se lidar com juízo de gosto. Na arte tem-se o pensar a expressão do belo, conceber o belo de forma a ser contemplado. É a busca do sublime manifesto na representação da experiencia. Ai reside a critica platônica aos artistas, justamente porque os artistas criam uma representação do belo e para Platão, o belo é ideia, portanto impossível de ser representado fielmente pela arte. Se é impossivel a representação fiel, é portanto a arte inferior a natureza enquanto representação inferior ao ideal. A arte é inferior a natureza segundo Platão, por somente imita-la.
Filosoficamente falando, Platão teria sido o primeiro a questionar: “ O que é o Belo? Na visão platônica só há Belo se este for identificado com o bem e relaciona-se intimamente a verdade e a perfeição. Portanto está ligado diretamente com o mundo das ideias. Aqui reside a contundente critica platônica as Artes mimética, por se limitarem a “ imitar ou copiar a natureza”. Essa imitação conduziria o homem ao afastamento da beleza ideal, a beleza que está no mundo das ideias.
“Não deixa de ser legitimo designar a filosofia de Platão como inimiga declarada da arte, ao menos como uma filosofia estranha à arte.” (PANOFSKY, 1994, p.8). Na afirmação de Panofsky, ele evidencia que pela avaliação platônica acera da produção artística em critérios de verdade, fica evidente a necessidade da conformidade com a “Ideia” e fala que era estritamente estreita a aceitação de produções artísticas em que Platão considerava artística, isso por que Platão atribuía à arte o sentido idealista. Por ser ideia, seria impossivel o homem traduzi-la em arte, que é meramente uma imitação ou mimetismo.
Aristóteles diz que a beleza se expressa na matéria pela e pela forma que se apresenta a matéria, o artista conhece as primeiras causas do belo, ele tem o oficio poietico colocando em ato, na matéria aquilo que ele conhece da beleza formal. Para Aristóteles existe causa formal, material eficiente e causa final. Assim a arte está no plano formal e o artista é portador da causa eficiente, é ele quem vai dar forma à matéria. O Artista deve mostrar ao mundo, através da mateira sua composição. E ai se estabelece a relação causa formal e causa material. Aristóteles reformula a concepção platônica da arte como corrupção. Ele trabalha a finalidade da obra de arte. Para ele a obra não é mais objeto, é um pressuposto com finalidade. A arte pretende atingir um fim. No que se refere a filosofia da natureza e da arte, Aristóteles diz que a existe uma relação imbricada entre ambas, com a diferença que a arte é naturalmente o produto material cuja forma reside na alma humana. Ou seja, antes da forma entrar na matéria constituindo-na em obra, ela ja existiu na alma do ser humano, que a compôs como tal.
Sêneca, segundo Panofsky (1994) reconhece a possibilidade do artista reproduzir, ante ao objeto tomado da natureza, uma representação. Um detalhe interessante é que para ele a representação interior do objeto não é de forma alguma superior à visão do objeto exterior e por isso pode conferir a ambas a denominação de Idea. Para Panofsky (1994) Plotino vai na contramão desta visão, e fala de forma interior como modelo perfeito e supremo, promovendo uma defesa contra o ataque platônico a “arte mimética”. Para ele as coisas da natureza também imitam outras coisas e por tanto, também o artista pode imita-la e que a arte não se limita a reproduzir o visível mas vai em busca dos princípios originários da natureza e em muitos dos casos, os artistas promovem correções tendo em vista os defeitos do objeto representado.
“A partir de agora, a ideia não ‘reside’ ou não ‘preexiste’ mais na alma do artista, como era dito em Cícero e em Tomás de Aquino; tampouco ela lhe é ‘inata’, conforme expressão típica do Neoplatonismo; muito pelo contrário, ela ‘vem ao espírito’, ‘nasce’, é o ‘produto’ ou uma ‘aquisição’ da realidade, sendo realmente ‘modelada e esculpida’.” (PANOFSKY, p. 62, 1994).
Aristóteles concebe a arte como uma criação humana na qual o belo deve ser visto como próprio do homem por estar nele, próprio, ainda que se distingua a beleza e arte. Distingui ainda artes de com utilidade prática as que completam a natureza naquilo que nela é falta. E as que imitam a natureza, e a extrapolam mediante abordagens irracionais, impossíveis ou inverosímel. E dizia que o que confere beleza é a forma, simetria, ordem, sempre tendo como equilíbrio o justo meio. Aristóteles diz que a arte é imitação da natureza.
Em Plotino o esprito do artista “acompanha em sua essência, e por assim dizer, em seu destino, o espirito criador que representa a forma atualiza da insondável unidade do absoluto” (Panofisky, p.27). Para Plotino é como a beleza na natureza, uma irradiação da ideia através da matéria. Panofisk fala que a percepção plotiniana, mesmo em seu afã poético ou heurístico torna-se tão perigosa como a mimética platônica para as artes, por que a visão heurística diz que a arte detém uma missão nobre, de fazer com que a forma penetre na matéria. Panofsky diz que é belo que a forma triunfe sobre a matéria.
No que vimos até aqui, a natureza é ao mesmo tempo, fonte de inspiração, como também é ela mesma a manifestação da arte, na medida em que o homem, o artista também é ele elemento da natureza. Esse olhar para o humano vai aparecer mais adiante, quando se falar do renascimento.
A concepção estética do belo no neoplatonismo era de uma representação incompleta de algo que era superior. Incompleta porque é o simulacro de algo perfeito e real, que está no transcendente e imune a corrupção do mundo material. Essa vertente remete ao exercício da rememoração da realidade. Resiste-se a ideia de que a arte triunfe sobre a natureza, por meio da imaginação aliada a inteligencia. Já no cristianismo, como a religião que liga o espectador da obra ao transcendente lhe proporciona adentrar na dimensão do sagrado. E neste aspecto a dimensão estética é apenas uma representação do espirito simbólico. O artista é o intermediário entra a beleza da divindade e o mundo concreto inconstante perecível empírico, material.
Para Panofsky a alma precisa acostumar-se primeiro ao espetáculo das belas ocupações, depois das belas obras, não tanto daquelas produzidas pelas artes, mas realizadas pelos homens de bem.
Na idade média a concepção de belo segundo Agostinho, aparenta pertencer aos objetos da natureza para depois ser conferida a imitação as obras de artes, no entanto, dizia Panofsky, é mediante manifestação da Ideia, e não estão privadas da finalidade e nem de sua autonomia próprias. Cai no esquecimento nesta concepção a Ideia.
Explique por que para o Renascimento e a modernidade nascente é importante essa noção de natureza?
A arte da Renascença também se caracterizou pelo humanismo, naturalismo e realismo na representação de seres e por uma grande preocupação com a racionalidade, o equilíbrio, a simetria e a objetividade, tanto na arquitetura, pintura e escultura quanto na literatura.
Tinham (os renascentistas) de lutar por uma nova forma de expressão, estilística e graficamente diferente da clássica assim como da medieval, mas no entanto relacionada com ambas e devedora de ambas. ( Panofsky, 1991, p.87)
A música passou a explorar, cada vez mais, temas não-religiosos e a utilização da técnica do contraponto deu maior liberdade de criação os compositores. Tem-se na renascença a retomada da natureza como tema e forma para a representação. Necessidade pela qual a relação com a natureza, uma retomada da antiguidade, a necessidade permeia a relação artista natura mas que desemboca num problema sem solução para o Renascimento , a relação sujeito- objeto. Segundo Panofsky(1994), Alberti apresenta uma proposta muito coerente no sentido de priorização do naturalismo.
Segundo Panofsky (1994, p. 63):
[...] a “Idea”, que o artista produz em seu espírito e manifesta por seu desenho, não provém dele, mas sim da natureza por intermédio de um“julgamento universal”, o que significa que ela se acha prefigurada e como que em potência nos objetos, mesmo que seja conhecida e realizada em ato só pelo sujeito.
Contudo, ao que se parece, essa ideia de que a natureza como ideia fixa no Renascimento não vai permitir o amadurecimento da relação sujeito-objeto. Fato que segundo Débora Mendonça, o problema sujeito objeto não se desenvolve por conta de que concomitantemente à constituição da teoria da arte, há a existência de vertentes platônicas, que ainda se prendem a mentalidade inteligencia suprema.
Marsílio Ficino defende, na visão de Panofsky(1994), que a beleza como resultante da inteligência divina, por meio da qual a ideia de belo se imprime no esprito. Assim, a ideia de belo estará ligada diretamente a uma fórmula. O dever do pintor era o de escolher na diversidade de objetos da natureza, sempre se cira ainda a necessidade de utilizar a natureza como modelo da arte, e com isso a responsabilidade do artista em escolher o que há de mais belo. Tá certo que essa percepção da beleza se dá segundo os modelos do humanismo e suas proporções. Mas é claro que a natureza é retomada como uma volta aquela ideia primeira da antiguidade, de forma que a arte consiga superar a verdade natural e busque exprimir o belo com tamanha expressão. Uma tarefa árdua de tentar a arte daquela época uma herdeira da antiguidade. Artistas como Botticelli, buscam na antiguidade a importação da natureza que o neoplatonismo havia rejeitado. Boticelli percebe, a necessidade de o artista agir na natureza via uso da razão e essa postura influí diretamente no pensar o problema sujeito/objeto que é tão caro ao Renascentismo, mas que pressupõem sujeito que pensa a existência no mundo e a converte em arte. É neste período que se tem o surgimento da nova forma de pensar a Arte, surge ai a Teoria da Arte ou Estética. No quatrocentismo italiano, se vê o convívio de coexistências culturais quase que antagônicas, de um lado o tomismo que tenta tornar a arte mais simples do outro o cientificismo humanista que busca marcar a importância do cientifico na arte, ainda somando ai as correntes neoplatônicas com Marsilio Ficino e sua mentalidade a priore do intelecto do Sujeito, na qual a concepção de beleza diz do amor provindo da inteligencia divina.
A concepção artística do Renascimento é oposta a idade media e tem objetiva arrancar a representação subjetiva e torna-la presente em um mundo exterior. Desde o incio a leitura renascentista sustenta o caráter revolucionário dos artistas e imprime a marca nos artistas dos seculos XIV e XV “trazer de volta a semelhança com a natureza, numa perspectiva antiquada e presa a repetições. Mas reside ao paralelo da visão da imitação da natureza, a ideia do triunfo da Arte sobre a natureza que se realiza por meio da imaginação em que o artista, na sua ação criadora modifica as aparências na medida em que se afasta das variantes naturais, promovendo o ineditismo. Aparece a liberdade do inventar, do escolher e aperfeiçoar, exteriorizando uma beleza sempre irrealizada e incompleta, ainda que haja no artista a exortação da fidelidade à natureza. Neste sentido Alberti fala que o artista não deve obter somente uma semelhança mas acrescentar a beleza imprescindível. A imitatio ai, é clara herança da antiguidade. A fidelidade a natureza e a beleza são exigências que somente mais tarde serão vistas como incompatíveis, e naquele momento aparecem como postulados compatíveis. Essa dupla exigência vai aparecer como uma necessidade imperativa de uma explicação da realidade, imitando-a e corrigindo-a.
A teoria da arte vai marcar a existência de um sistema de leis universais, e nela a beleza era atingida quando o artista escolha uma bela inovação, conferindo harmonia as aparências de forma racional na aplicação das cores. Ai entra em cena a teoria das proporções, que leva o artista a pensar e saber determinar equilibrada e racionalmente à harmonia de forma a obra se tornar prazerosa na contemplação. Para a arte renascentista a relação sujeito objeto era regido por regras de validade a priori, fundamentado no empírico, que permitia compreender o fenômeno .
Então, diante do exposto, o belo enquanto expressão artística é uma releitura da natureza, que seja como percepção da ideia impressa na alma do homem, quer seja como imitação desta. Trata-se da expressão em que se torna contemplativa a ação do homem que se expressa na arte.
Na modernidade a megalomania é expressa de tal forma que a relação homem natureza fica sempre colocada como objeto impercebido, colocada como objeto de segundo plano, em que é tão somente adornos para preenchimento do espaço em que a figura humana é trazida para frente. Contudo, não se tem a necessidade de uma expressão do belo, ha uma desproporção. Nesta concepção a ideia reside a posteriori, enquanto experiencia ( Goethe) e Belorri combate os naturalistas dizendo que estes não desenvolvem ou tem ideia, mas seguem modelos. Trata-se de uma estética idealista, ou a metamorfose da ideia em Ideal ( Panofsky, 1994, p.106). O combate com os naturalistas, renascentista revela o caráter normativo da concepção neoclássica, e para esta concepção a natureza é substrato da qual exige purificação. O Idealismo e o naturalismo são postos em contraditório, e a arte como expressão da natureza ganha caráter pejorativo. Os artistas afirmam a impossibilidade de ver na natureza qualquer expressão de beleza.
Eis como Baudelaire enxerga a estética de seu tempo:
“Esta é uma bela ocasião para estabelecer uma teoria racional e histórica do belo, em oposição à teoria do belo único e absoluto; para mostrar que o belo inevitavelmente sempre tem uma dupla dimensão, embora a impressão que produza seja una [...]. O belo é constituído por um elemento eterno, invariável, [...] e por um elemento relativo, circunstancial, que será, se quisermos, [...] a época, a moda, a moral, a paixão” (1995, p. 852)
Prefigura-se mudanças profundas na forma de pensar em que ancora a reconstrução ou desconstrução do pensamento ancorado nas idias imisturáveis, o artista considerado o sinalizador de ruptoras nas quais se passa pelos cânones das tradições seculares da estética- da arte, ultrapassa o ideal de belo, da mimética, alçando voo para a subjetividade na qual se tem o surgimento da arte moderna.
2.3. Por que não há sentido em se falar de arte e natureza para Platão?
Desdes os filosofia antigos, Platão, Aristóteles já se falava em Arte e neste contexto o tema “Belo” entra como constitutivo da filosofia desde os primórdios. O nascimento do ideal de beleza remonta a Grécia antiga. Os gregos cultivavam conceituavam o ideal de beleza e isso se refletia na arte, na filosofia e em toda a vida cotidiana do povo grego. O nascimento da Estética enquanto disciplina filosófica é reflexo das inquietações e das reflexões sistemáticas acerca do belo natural e do belo artístico. Dessa sistemática, poetas, escultores, filósofos, arquitetos, dramaturgos, escultores ganham notoriedade ao desenvolverem técnicas, conceitos, ao falarem do belo. A arte é, pois, comparada com a Poieses - está associada a criação e difere do trabalho do artesão que se remete à pratica – Práxis. O artesão ao desenvolver seu trabalho ele se limita a reproduzir, seu trabalho prático não está ligado ao processo criativo, com o qual o artista desenvolve a concepção de sua obra, este é, portanto do campo poietico. Se consideramos asa obras de arte como representações da experiencia humana, figuras gravadas em rochas nos da as primeiras representações humanas, pode-se até considerar arte por relatar a experiencia humana, uma representação por meio de trabalho poiético. A filosofia da arte submete-se àquilo que é seu objetivo, ao crivo da critica filosófica.
O ato poietico, campo da criação, e por meio da qual se introduz o novo a ser contempla-do. A filosofia da arte toma a arte como objeto e se difere da estética justamente pelo fato da estética se lidar com juízo de gosto. Na arte tem-se o pensar a expressão do belo, conceber o belo de forma a ser contemplado. É a busca do sublime manifesto na representação da experiencia. Ai reside a critica platônica aos artistas, justamente porque os artistas criam uma representação do belo e para Platão, o belo é ideia, portanto impossível de ser representado fielmente pela arte. Se é impossível a representação fiel, é por-tanto a arte inferior a natureza enquanto representação inferior ao ideal. A arte é inferior a natureza segundo Platão, por somente imita-la.
Filosoficamente falando, Platão teria sido o primeiro a questionar: “ O que é o Belo? Na visão platônica só há Belo se este for identificado com o bem e relaciona-se intimamente a verdade e a perfeição. Portanto está ligado diretamente com o mundo das ideias. Aqui reside a contundente critica platônica as Artes miméticas,por se limitar a “ imitar ou copiar a natureza”. Essa imitação conduziria o homem ao afastamento da beleza ideal, a beleza que está no mundo das ideias. E por estra na pártica a critica platônica vai ser enfática ao dizer que é impossível a realização da arte com fidelidade da idia de belo.
“Não deixa de ser legitimo designar a filosofia de Platão como inimiga declarada da arte, ao menos como uma filosofia estranha à arte.” (PANOFSKY, 1994, p.8). Na afirmação de Panofsky, ele evidencia que pela avaliação platônica acerca da produção artística critérios de verdade, fica evidente a necessidade da conformidade com a “Ideia” e fala que era estritamente estreita a aceitação de produções artísticas em que Platão considerava artística, isso por que Platão atribuía à arte o sentido idealista. Por ser ideia, seria impossível o homem traduzi-la em arte, que é meramente uma imitação ou mimetismo.
REFERENCIAS
BAUDELAIRE, Charles. Poesia e prosa. Nova Aguilar Rio de Janeiro: 1995
MENDONÇA. Debora Barbam. Mudança de percepção no Quattrocento italiano representada por Sandro Botticelli. 3º Encontro de Pesquisa, UNESP. Vol. 1, nº 1, 2008
PANOFSKY, E. Renascimento e renascimentos na arte ocidental. Lisboa: Editorial Presença, 1981.
_______. O Renascimento. In: PANOFSKY, E. Idea: A evolução do conceito de belo. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
__________. Iconografia e Iconologia: uma Introdução ao Estudo do Renascimento. In: ______. Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 1991, p. 87.
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