Escola de Atenas, Platão e Aristóteles no centro da pintura - Rafael Sanzio (1509-1511)
O ESTADO, ente onipresente e
que resulta da constituição deliberada pela vontade dos indivíduos que delegam
personificação, autoridade e poderes ao Ente, com um único intuito de regular a
luta resultante da disputa de poderes entre as classe. A disputa se dá em grande parte, no campo ideológico, e neste campo, os ganhadores são normalmente aqueles que capazes de formar as consciências daqueles que querem subjugados. O individuo que não consegue compreender a dinâmica de vida e
sobrevivência do Estado, tende a ficar refém de sua ignorância. Dito de outra
forma, as empresas optam por mais lucros, e eles são resultado da obtenção da
exploração do trabalhador. Por isso é urge tomar consciência. Falar de produção de consciência enquanto ação de empoderamento é importante. Neste aspecto, é mister compreender a perspectiva que Marx e Engels tem da Consciência, apresentado em "IDEOLOGIA ALEMÃ". Os autores de Ideologia Alemã trazem na citada obra a percepção de que indivíduos isolados, ao agirem de maneira a interagirem universalmente, tornam-se subjugados ao poder dominante, e este poder é sem dúvidas, estranho a eles. Assim,
dizem os autores que o poder adquire um caráter cada vez mais de massa e se
revela em escala global ao se estender em forma de mercado.
Contudo,
chama-se a atenção para que, “com a derrocada da ordem social vigente por obra
da revolução comunista”... “e a suprasunção da propriedade privada idêntica a
ela” (MARX, 2007, P.60), os autores acreditam que se dissolve esse poder tão
misterioso e desconhecido aos indivíduos. E isso se da quando a liberdade de
todos se impõe por meio das transformações históricas em caráter universal.
“A
dependência omnilateral”[1], a
cooperação de indivíduos ao logo da história universal, para os autores,
transformar-se ia, por meio da revolução comunista, que “no controle e na
dominação consciente sobre estes poderes que, nascidos sobre este da ação de
alguns homens sobre os outros, até agora impunham sobre eles e os dominavam na
condição de potencia absoluta estranhas”. (MARX 2007, P.61).
A Concepção histórica
apresentada pelos autores, consiste em evidenciar o processo de produção - quer
seja material de “vida imediata”- quer seja ao conceber na forma de
intercambio, o modo de produção e todas as consequentes advindas dele, uma
sociedade multi fases. Que para eles (Marx e Engels), tal sociedade se tornaria
o fundamento de toda a história e se manifesta por meio do Estado e se estende
por diversos meios, na ação sobre a consciência como por exemplo: “ a religião,
a filosofia, a moral”.
Deve-se, contudo, explicitar
que esta concepção se difere da idealista, por não buscar uma categoria em seus
períodos, mas fincar suas bases no campo da história real. Bem como, não tenta explicar a prática ao
partido da ideia, mas sim, explicar as formações ideológicas estabelecidas com base na prática material, (
Max, p.61). Neste ponto, eles tecem crítica ao pensamento religioso, ao afirmam
que os produtos desta consciência “não podem ser destruídos por obras de
critica espiritual, mediante a redução da autoconsciência ou à transformação e
fantasmas, espectros, visões.” ( Marx, p.62)
“Essa concepção revela que a História
não termina se dissolvendo na autoconsciência, na condição de que a espirito do
espirito, mas que em cada uma de suas fases se encontra um resultado material,
uma soma de forças de produção, capitais e circunstâncias...” (Marx, 2007,
p.62)).
Com isto, os autores dizem
que dadas as condições, estabelecidas por circunstâncias em que os homens em
uso de suas faculdades, constroem uma dada realidade histórica, terminam por
determinar as condições de continuidade, em que as novas gerações, que se verão
impelidos a continuarem a partir dos pensamentos, costumes, valores deixados
pelas gerações posteriores. A nosso ver, traz a ideia de “progresso sem fim”[2],
abordada por (PEGORARRO, 2011, p.21).
Deve-se ressaltar, contudo, no complexo sistema pelo qual é estruturado o Estado, o progresso é continuo somente para aqueles pertencentes ao estrato social superior, resultando aos trabalhadores, a responsabilidade de trabalhar e produzir riqueza para aqueles que os contratam, conforme compreendemos a realidade.
O pensamento religioso é elemento importante na perpetuação ou ruptura destes sistema de perpetuação do Poder. Basta ver como a linha histórica das religiões está delineada na estrutura de poder. Nessa perspectiva a historia
é vista como ação de Estado em que se estabelecem lutas religiosas em distintas
épocas. É o que nos diz os autores. Mas, a consciência, por meio da imaginação,
a noção desta, que determina a práxis dos indivíduos.
Nesta seara, a forma como se
apresenta a divisão do trabalho, por
exemplo, nas civilizações mais antigas como hindus e egípcios, que se
estabeleciam por meio de regime de castas, é exemplificado pelos autores como a
forma prática da manifestação “ tosca forma social”.
Essa história, tomada por base a
historiografia alemã, tributária de Hegel, fonte da qual Marx bebeu fartamente,
traz a concepção do homem como homem de pensamento, o homem religioso. Fato
este que para o autor, ao produzir quimeras religiosas faz com que o homem
deixe de lado a produção real, importante por subsidiar a vida individual e em
sociedade. Para nós, a teologia da libertação, neste ponto, pode colaborar com o processo de tomada de consciência, pois apresenta uma concepção teológica do homem que Caminha com o Deus, o homem consciente de Deus e da sua relação com o próximo, imagem e semelhança de Deus.
Traz em si, uma ideia de
descida, ou necessidade de sair do reino de Deus para o domínio dos homens e
estabelecer as condições do empoderamento do homem. Neste ponto, observa-se uma
ideia puramente alemã e de interesse local. Fato este bem próprio da época, em
que se da manifestação mais marcante do pensamento científico, e todas as
críticas mais contundentes ao pensamento religioso. Ressalta-se que para os autores, mesmo não sendo feito nenhum movimento de
revanche ou de beligerância ao pensamento religioso, este tende a se dissolver
e sucumbir com o tempo, na medida em que a massa trabalhadora, o proletariado
se incumbe de suas atividades diárias, não restando em si tempo ou espaço para
buscar nas religião qualquer aporte.
Estabelecido o pensamento
acerca da questão religiosa, traz a luz da discussão a questão nacional, e “destas
questões e suas soluções se revela, ademais, no fato de estes teóricos acreditarem
seriamente que fantasmagorias[3]
como os do “homem- deus”, tenha de fato presidindo determinadas épocas da
historia” ( MARX 2007, p.64), interessante notar, que mesmo fazendo tais
críticas ao pensamento religioso, Max traz em contra partida, pensamentos como
de – São Bruno, que afirma somente “critica e críticos fazem história”, mas
adverte que mesmos os críticos devem se ater a explicitar os momentos em que se
dão as construções históricas, pulando sobre tudo que foi anteriormente
ocorrido.
"Se relegam ao esquecimento todas as demais
nações e todos os acontecimentos reais, e o
teatrum mundi (teatro mundo) se limita à Feira do Livro de Leipzig e às
disputas entre a “Critica”, o “homem” e o “Único”. E quando a teoria se decide,
uma vez que seja, a trata de temas
realmente históricos, por exemplo, do século XVII, limita-se a oferecer a
historia das ideias, desconectada dos fatos e dos desenvolvimentos práticos que
lhe servem de base." ( MARX, 2007, p.65).
O confronto de ideias se
desenvolve trazendo Feuerbach à conversa, afirmando seu equívoco quando se toca
na “essência do cristianismo”, para quem a qualidade do homem comunista,
alcunha que postulava a si mesmo, era de “homem comum”, a qual seria um predicado
do homem, o que para Marx seria uma mera categorização e uso linguístico.
"É
sintomático, no entanto que são Bruno e São Marx coloque imediatamente a ideia
que Feuerbach forma a partir do comunista no lugar do comunista real, coisas
que fazem, em partes, para que também eles possam como adversário a mesma coisa
altura, combater o comunismo como “espirito do espirito” (Geist vom Geist),
como uma categoria filosófica – e da parte de São Bruno respondendo, além
disso, a interesse de caráter pragmático." ( Marx, 2007, P.66).
Tal ação seria para os autores
uma realidade de materialista pratico, um comunista, que ataca o mundo com ele
é e todas as coisas transformando-as. Continuam a combater a Idea de Feuerbach
de que sua observação do mundo se limita a observações simples e meras
sensações, apontando simplismo no pensamento Feuerbacheano, no tocante ao
enfrentamento com o “mundo sensível”, por ser confrontado com coisa que
contradizem sua consciência, harmonia e tudo que lhe é sensível. Afirma
que Feuerbach recorre a uma dupla
argumentação, para se livrar dessas contradições, uma “oscilando entre uma concepção
profana, que apenas vê “o que está à mão, e outra superior, filosófico que
contempla a “verdadeira essência” das coisas”. ( MARX, 2007, p.67).
Neste aspecto, a relação do
homem cona natureza se torna um problema filosófico na concepção de Marx, que
entende ser um problema profundo, reduzido a uma questão empírica simples.
Um exemplo é a questão da
indústria e do comércio, que na visão dos autores, juntamente com o intercambio
dos meios de vida, condicionam e são condicionados pela forma como operam e são
operadas pelas classes sociais. Max (2007)
A história para Marx “não é
mais do que a sucessão das diferentes gerações individuais, cada uma das quais
explora os materiais, capitais e forças de produção transmitidas por aquelas
que a precederam” ( MARX, 2007, P.70), uma
sequencia de ações decorrentes da transmissão continua de valores e percepções
absorvidas e retransmitidas, absorvidas das gerações anteriores e
retransmitidas de forma modificada as posteriores.
Neste sentido, se dá também
a transmissão do pensamento dominante, das classes dominantes e ideias
dominantes e todas as épocas, e assim, a classe que exerce o poder na sociedade
é o poder espiritual dominantes na visão maxiana.
De igual forma a classe
detentora dos meios e fatores de produção se configura como classe dominantes
espiritual e por isso, subjuga as ideias daqueles que a cercam e dependem.
As
ideias dominantes não são outra coisa a não ser a expressão ideal das relações
materiais dominantes concebidas como ideias; portanto, as relações que fazem de
uma determinada classe dominante, ou seja, as ideias de sua dominação. ( MARX,
2007, p.71).
A
consciência é constituída na visão de Marx, como produção histórica humana, e
por meio dela, pode-se dizer que se estabelece relação e poder e de dominação,
pela qual uma classe se impõe e sobrepõe às demais. Trata-se de imposições de
diversas forma e modos. O Estado nasce justamente para garantir que os
grupos dominantes obtenham proteção conta aqueles que são dominados. E como
fundo basilar desta estrutura de domínio, a lei é instituída para criar a ideia
de equilíbrio entre as partes. Fato é que o homem ao deixar de ser caçador, ao
aprender domesticar animais, começa também a fixar moradia e apropriar-se de
terras, deixando-nas para seus descendentes. Tais condições são basilares para
a concentração de riqueza e dela, a estratificação social, Pobres e Ricos.
Proprietários e desafortunados. A sociedade é anterior ao Estado, que o
organiza em função da necessidade de preservação dos poderes e da dominação de
uns sobre outros.
Os "Eleitos" ou merecedores saem das
classes mais abastadas, e se constituem promotores das leis e das normas que
determinam o viver do Estado criado e resultante da deliberação de toda a
sociedade. Também é esses eleitos que julgam conforme as leis, e as manipulam
em razão das necessidades das ELITES. Produzir consciência, ao nosso ver, é ação de evidenciar a verdade histórica em suas várias faces. No campo político, fazer com que os indivíduos percebam os motivos pelos quais algumas coisas são ditas como verdade, outras mesmo sendo verdadeiras, são levadas a serem descartadas por serem compreendidas como mentiras. Produzir consciência é promover a emancipação intelectual, levar indivíduos a pensarem e refletirem a realidade para além dos discurso, das notícias, das paixões.
É de responsabilidade de todos os que já se emanciparam, contribuir com o processo de conscientização das massas, para que também estes deixem de ser GADO, e passem a serem atores e construtores do próprio destino. Por isso, impera compreender que processos de tomada de consciência resultam de abdicação de verdades concebidas por outros, para eleição da consciência própria, reflexiva, ética, responsável pela reestruturação do Estado de proteção dos ELEITOS, para o ESTADO DO BEM ESTAR SOCIAL
[1] O
homem deve se sentir completo, a partir de sua vivencia em sociedade.
[2]
Progresso sem fim é a teoria moderna e contemporânea do mundo, da historia e do
homem. Para Pegoraro, a partir do Sec. XVI-XVII, a filosofia
se liberta da metafisica e se torna critica das possiblidades da razão
imanente.
[3] Para os filósofos
gregos, o fantasma é uma *imagem que procede diretamente elos objetos e atinge
os sentidos (especialmente a visa) daqueles que os observam. (JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001. P.74).
FONTE: MARX, Karl. A
ideologia alemã. Org Trad. Marcelo Backes. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2007.
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