O tema abordado é resultante da leitura da obra "Ideologia Alemã", escrito por Marx e Engels, e foi desenvolvido tão somente em função da citada obra, ainda que em dados momentos, valeu-se de aportes teóricos de alguns outros autores. Trata-se da visão de Kral Marx enquanto filosofia, acerca do poder, extraindo essa visão a partir do fragmento da obra Ideologia Alemã. Esse
recorte faz necessário, tendo em vista a amplidão da obra de Marx, bem como a
gama de conceitos e de linhas de pensamentos desenvolvidas pelo Filosofo
alemão. Poderíamos nos ater aqui sobre o materialismo dialético e falar de como ele se baseia em Demócrito e
Epicuro para desenvolver seu pensamento acerca desse tema, na tentativa de
superar Hegel e Feuerbach. Poderíamos discorrer sobre a crítica marxiana sobre
a dialética hegueliana ou como ele mostra Feuerbach tentando trazer o céu para
a terra, ou ainda atermos na batalha de explicar a história das sociedades
humanas em todas os períodos históricos, evidenciando os fatores econômicos e
sociais e os fatores materiais utilizados como instrumentos para tal. Mas ainda
dentro deste tema, fizemos um recorte para o olhar sobre a construção do PODER e o empoderamento de classes dominantes, por deterem fatores de produção e
estabelecerem seus domínios sobre os demais indivíduos. Para tanto,
valer-nos-emos dos elementos textuais apresentados, em que são evidenciados os
aspectos de relação social e os conflitos inerentes desse processo iterativos
entre indivíduos. Somando-se a isso, traz à discussão Michel Foucault, com a
visão de que o poder em si não existe, mas sim, a afirmação da existência de
uma relação de poder, em que indivíduos se utilizam de diversos expedientes
para demonstração de poder e sobreposição de seus pensamentos aos demais. O
leitor observará que não foram abordados temas como existencialismo ou política
e economia, na perspectiva macroeconômica, mas tão somente o desenvolvimento do poder,
trazendo como fundo a luta de classes.
Em a Ideologia Alemã Karl Marx e Friedrich Engles se
ocupam da temática proposta pelos jovens hegelianos, e nesta tônica traz alguns
traços delineados e ou explicitados em seus textos os quais resolvemos , audaciosamente,
tentar desvendar e trazer à luz das discussões
para melhor percepção de assunto de tamanha importância. Assim,
questionar-se sobre, como se dá a construção do poder e seus efeitos em toda a
sociedade, se faz ao mesmo tempo ,uma tarefa árdua e arriscada. Então,
compreender alguns conceitos marxianos como materialismo histórico, Ideia
absoluta e consciência critica seriam pertinentes. Mas é primordial a compreensão da “essência do homem em
consonância com suas relações estabelecidas”. E aqui, se faz o recorte para a
questão das relações sociais, em face da eleição de pontos ou marcos
históricos, dentro da concepção histórica de progresso sem fim, em que se
percebe na escrita de Marx a evolução das estruturas de poder e dominação do
homem pelo homem.
Nesta concepção,
elege-se a propriedade privada como fator determinante do empoderamento dos
indivíduos. Estes, valendo-se desse poder adquirido, tornam-se proprietários,
primeiro das terras, enquanto fator decisivo para a produção primeira, a da subsistência; segundo, das ferramentas com as quais serão produzidos os artesanatos; terceiro, a técnica de produção, e por
ultimo a destacar, a apropriação da força produtiva dos indivíduos que, desprovidos dos fatores anteriormente elencados, se submetem ao julgo do
trabalho servil para sua própria subsistência. É necessário dizer que os
indivíduos submetidos ao serviço nem ao menos se dão conta de que neste
processo, terminam por atribuir a outrem, mais poder, advindos da apropriação
de sua força de trabalho, explorada sorrateiramente. Neste contexto, interessa lembrar da percepção de Foucault quanto ao tema. Ele diz não existir poder, mas relações de poder. Essas relações são estabelecidas no convívio cotidiano, e são determinadas por estruturas e superestruturas que contribuem para a eleição de uns em detrimento de muitos e são determinantes para a manutenção das diferenças no uso do poder que mantem inalteradas as dinâmicas de poder no seio da sociedade.
(Foto retirada da internet: sensacao-de-poder-altera-o-funcionamento-do-cerebro-fazendo-com-que-seu-detentor-conecte-se-menos-com-o-outro-poder-chefe-abuso-de-poder-hierarquia-assedio-moral-1503529578470_300x300 (1))
Marx e Engels, na obra citada, afirmam a consciência humana como sendo
intermediada pelo trabalho em sua organização
e nos faz compreender que as ideologias se dão a partir de condições
materiais. Enfatizam que é a vida real quem determina a consciência, indo
então, de encontro ao Hegel quando este diz que é a consciência quem determina a vida ( Marx, 2007, p 10). E
neste aspecto traz a baila, a compreensão que a infra estrutura, e nela a perspectiva econômica, é parte importante e imprescindível para o reconhecimento do poder residente na
“divisão do trabalho”. Marx (2007). Assim, a relação contida desde os primórdios
da humanidade, são em si, relações de poder.
Traçar a evolução histórica do poder enquanto sendo construído
na dinâmica do materialismo histórico é mister, contudo, deve-se lembrar que
este não é o ponto central da obra, mas sim a concepção do comunismo como um
“movimento real e que supra-sume (abole, suspende, conserva e supera)” o estado como nos é apresentado. ( BACKES IN:
Ideologia alemã 2007, P.11) . A ideologia alemã marca o nascimento do
materialismo histórico e nesta obra, segundo Backes, no prefácio da obra, Marx
e Engels se mostram céticos no tangente a possibilidade de supra-suncão completa da
divisão do trabalho. No fragmento analisado, observa-se que que Marx traz a
ideia da existência humana e toda a construção humana como genes da
História. O homem é ele mesmo o construtor de sua história. Essa afirmação traz implicações importantes para a sociedade atual. Assumir as rédeas de seu destino e começar a construir as bases de seu futuro é de vital importância.
Karl Marx começa com a
seguinte premissa: “[...] a primeira premissa de toda existência humana e,
portanto também de toda a história, é a premissa de que os homens, “para fazer
história”, se achem em condições de poder viver” (p.50). Dai, entendemos que
para haver história da humanidade, é conveniente que exista meios
que o homem possa viver, ou seja, tudo aquilo que dá condições e garantias da
sobrevivência da espécie humana.
Marx classifica como
primeiro “ato histórico” a produção desses meios de sobrevivência, ou seja, a
geração desses meios para obter aquilo que garante a sobrevivência. Mas quais
são esses meios de sobrevivência? É comida, roupas, bebidas, moradias e outras
coisas. Isso se torna condição para que
se fundamente a história. Podemos entender que a criação material
faz parte da história, ou seja, os bens que foram produzidos são marcos na
história da humanidade. Ressaltamos neste ponto, o poder de dominação que se tem sobre as massas, aqueles que detém os meios de subsistência. Marx coloca em observação três coisas que são fundamentais
na concepção histórica. A primeira é o alcance e a significação deste fato.
Para ele, os seus compatriotas não deram a atenção para isso ao passo que os
ingleses e franceses souberam fazer, usando da História, a usaram para se
libertar das amarras políticas e também dar para a historiografia uma base
material para que possa ter explicação sobre as histórias da sociedade
civil, do comércio e da indústria.
Outra coisa é que já
satisfeita essa necessidade primeira, a ação de satisfazer e de adquirir a
instrumentação necessária para tal coisa, conduz para outras necessidades que
surgem pelo percurso. Consequentemente, essa criação de novas necessidades
constitui agora o primeiro fato histórico. Por fim, a terceira coisa é que os
homens sempre renovam suas vidas, diariamente. Mas como assim renovar diariamente
a vida? Eles fazem outros homens, ou seja, se reproduzem. Essa é a relação
entre homem e mulher, pais e filhos, ou seja, família. Pois bem, a família, no
princípio, constitui a única relação social. Somente mais tarde, quando as
necessidades se multiplicam, aparecem novas relações sociais, em virtude do
crescimento do número de homens. A relação familiar passa a ser secundário e
deve ser tratada de modo empirista existencial e não sendo adequada ao conceito
de família.
Esses três aspectos da
atividade social não devem ser considerados como três fases distintas, mas como
três momentos que coexistiram desde o começo da história e desde o primeiro
homem e que até hoje seguem, mostrando sua validez na história.
A produção da vida, tanto da
própria vida no trabalho como da vida estranha na procriação, se mostra na
condição de relação dupla.
(Imagem retirada da internet: autor desconhecido)
De um lado, como relação natural, por outro lado,
como relação social, no sentido de que se tenha cooperação com outros
indivíduos, quaisquer sejam as suas condições, modos e a finalidades. Assim, pode-se
deduzir que certo modo de produção ou certa fase industrial estão sempre unidos
a um modo de cooperação ou a um estágio social.
Entende-se esse modo de
cooperação como força produtiva. A força de produção acessível ao homem
condiciona o seu estado social e, portanto, a história da humanidade deve ser
estudada e elaborada sempre ligada a com a história industrial e do
intercâmbio. Aí se mostra a conexão
materialista dos homens, que é condicionada pelas necessidades e pelo modo de
produção. É uma conexão que sempre assume várias formas e apresenta uma nova
história, mesmo que exista qualquer nonsense de cunho político ou religioso que
mantivesse unido todos os homens.
A partir dessas
considerações que Marx fez sobre os momentos históricos, ele faz constatação
que homem é um ser dotado de consciência e de linguagem. Elementos essenciais também para a ereção de poder e de dominação. Governa aquele que é capaz de convencer e de fazer crer.
Marx também considera a
linguagem como consciência, denominando de consciência prática. Assim como
nasce a linguagem, nasce também a consciência das necessidades, da carência e
do intercâmbio entre os demais homens e onde existe a relação, ela existe para
mim. Portanto, a consciência é um produto social e sempre existirá enquanto
existirem seres humanos. Também ela é imediato e sensível que nos rodeia, dos
nexos limitados com outras pessoas e coisas, fora do indivíduo consciente de si
mesmo. Ao mesmo tempo é consciência da natureza, que no princípio entra em confronto
com o homem como poder absolutamente estranho, onipotente e inexpugnável, que
diante dela, as atitudes dos homens são animais somente e se submetem como se
fosse um rebanho de bois, portanto, uma consciência animal da natureza, a
religião natural. Em todas estas facetas, as relações de poder se dão estabelecidas.
Essa religião natural ou
comportamento determinado pela natureza, segundo Marx, é condicionado pela
forma societária ou vice-versa. Como em toda a parte, a identidade entre a
natureza e o homem tem a sua
manifestação de tal modo que a atitude limitada do homem para com a natureza
condicionou a atitude de alguns homens para com os seus semelhantes e por sua
vez, determinou a atitude limitada para com a natureza. Seguramente, a natureza
não sofreu nenhum tipo de modificação histórica e por outro lado, essa
consciência de necessidade de estabelecer relações com os indivíduos que os rodeiam seria o começo da consciência de que o homem vive, geralmente, dentro de uma
sociedade.
Esse começo é animal, diz
Marx, quanto à vida social. Nesta fase, existe uma consciência gregária, ou
seja, uma consciência de que ele vive em rebanho. O que diferencia o homem dos
outros animais é que seu instinto é consciente. Essa consciência de rebanho se
desenvolve mais tarde, pelo fato de que as necessidades se incrementam e a produtividade
começa crescer, bem como a população. Aí podemos ver que começa a divisão do
trabalho, primeiramente a divisão do trabalho no ato sexual, que
posteriormente, torna-se uma divisão de trabalho espontânea, introduzida de
forma naturalista, tendo como quesito os dotes físicos, as necessidades, etc.
A divisão do trabalho só
ocorre em uma divisão verdadeira quando se tem a separação entre os trabalhos
material e espiritual. Marx coloca como nota de rodapé a seguinte nota:
“coincide com eles a primeira forma dos ideólogos, os padres”. (nota 21, p. 54).
Quer dizer que a ideologia já estava presente entre os homens e que os padres
eram os difusores da ideologia, no caso cristã. Então, será a partir desse
momento que a consciência já poderá imaginar que é algo mais, algo mais
distinto da práxis vigente, representar algo sem representar na realidade. Aí
surgem as condições necessárias para a emancipação do mundo e a entrega para
poder desenvolver uma teoria, teologia, filosofia e moral “puras”. Mesmo que
estas coisas entrem em contradição com as relações vigentes, só poderá ter uma
explicação usando o fato de que as relações se achem em contradição com a força
produtiva dominante. Até mesmo dentro de uma esfera nacional de relações, pode acontecer de cair em
contradição, pois a contradição não se dá no seio da esfera nacional, mas sim, entre a consciência nacional e de outras nações, em outras palavras, entre a
consciência nacional e universal de uma
nação. Ora, domínio das consciências é exercício de poder. Domínio dos meios de produção também é poder exercitado.
Outra abordagem de Marx é sobre a divisão do
trabalho, que anteriormente ele coloca como surgiu. Aqui, ele diz que com a
divisão do trabalho, esta dá a
possibilidade e a realidade de que as atividades, sejam elas materiais e
espirituais, bem como o desfrute, trabalho, produção e consumo, caibam a
diferentes indivíduos. A possibilidade de eles entrarem em conflito, está no fato
de que devem suprassumir[1] a
divisão do trabalho. Com essa tal divisão, que traz todas essa contradições, e
se coloca ao lado a divisão do trabalho na família e na divisão da sociedade em
diversas famílias, opostas umas das outras, acontece que há uma distribuição
desigual de trabalho, tanto no que concerne a qualidade tanto quanto a
quantidade, bem como dos produtos. A família já se constituía a primeira forma
de propriedade: as mulheres e os filhos eram escravos do pai.
A escravidão latente na
família, mas de uma forma bem rude, é a primeira propriedade privada que já
corresponde a definição dos economistas da época. Define-se como o direito de
dispor da força de trabalho do outro e tanto como divisão do trabalho e
propriedade privada, são termos idênticos. Um refere-se à atividade, o mesmo que
o outro diz referente o produto da mesma.
Com essa divisão do
trabalho, “está dada, ao mesmo tempo, entre o interesse do indivíduo na
condição de indivíduo ou da família individual e o interesse comum de todos os
indivíduos relacionados entre si” (p. 55). O interesse comum não existe,
somente está na ideia como algo universal, mas que se apresenta no real, como
uma relação mútua de dependência dos indivíduos que, entre os quais, aparece o
trabalho.
Por fim, a divisão do
trabalho nos oferece com exemplo de que os homens vivem na sociedade de forma
espontânea, enquanto se dá. Sendo assim, tem uma separação do que é interesse
comum e o que é interesse particular, enquanto as atividades não aparecem
divididas de forma voluntária, mas sim de forma também espontânea. Até os atos
próprios dos homens se erguem diante de um poder estranho e hostil, que o
domina ao invés de ele os dominar. Assim, a partir do momento em que o trabalho
entra em processo de divisão, cada um se move em determinadas esferas
exclusivas de atividades, que lhe é imposto e do qual não tem como escapar.
Fica evidente no pensamento
de Marx que uma das praticas de dominação e uso do poder se dá por meio da
divisão do trabalho e pela posse da propriedade privada. Para o autor, a maior
divisão do trabalho físico e intelectual é a separação entre cidade e campo. Segundo o autor, o antagonismo entre o campo e a cidade
tem início na passagem da barbárie para a civilização, ou ainda, da saída do
regime tribal para o Estado. Contudo, segundo
Marx (2007), com o aparecimento das cidades, surgem necessidades: “administração,
da policia, dos impostos”, com a finalidade de se estabelecer uma organização
comunitária. Desta organização, destaca-se a eleição de estruturas de poder,
visando estabelecer as condições de manutenção do status quo das classes
dominantes instaladas. Desse processo, tem-se então a separação da população em
classes. Duas classes, que se baseiam diretamente segundo o autor, na divisão
do trabalho e nos instrumentos de produção.
Enquanto a cidade figura como a concentração da população, dos instrumentos
de produção e do capital, o campo é o oposto de tudo isso, isolamento e
solidão.
Para Marx, o antagonismo
entre cidade e campo se manifesta tão somente dentro da perspectiva da
propriedade privada. Onde, segundo Marx, se evidencia mais clara e distinta a
submissão do individuo a divisão do trabalho, submissão essa, que reduz os
indivíduos a meros instrumentos de produção e ou animais urbanos e animais rústicos,
cada um, de acordo o trabalho que se lhe impõe. Observe que para o autor, o
trabalho é, pois, fundamental para se compreender o exercício do poder sobre o
individuo, e enquanto existir esse poder de um sobre o outro, necessariamente
existirá a propriedade privada. Para que
haja de fato comunidade, seria necessário o fim da divisão entre cidade e
campo, mas que requer muito emprenho é o que diz Marx.
Marx afirma que a separação
entre cidade e campo pode ser compreendida como a separação entre capital e
propriedade da terra, o que seria o germe do capitalismo especulativo, ou
capitalismo financeiro, que é independente da propriedade da terá, que se
baseia tão somente na troca e no trabalho.
No pensamento Marxiano,
aquela sociedade ainda insipiente nada mais era que um germem do capitalismo
que estava a se organizar, tomando forma, seguindo os paços daquela que mais
tarde se tornará tônica dos mercados modernos, em que as fronteiras comerciais
suplantam as fronteiras geográficas, derrubam e alteram toda forma de
pensamento em seus efeitos globalizante.
Observe que nesta concepção,
o homem é objeto, somente “objeto Sensível”, Marx (2007), não é visto, pois,
como atividade sensível, e todo forma de um contexto de ser social, mas
meramente instrumento ou insumo de produção.
As consequências desse
pensamento burguês inicial foi à eclosão de conflitos em vários aspectos, o
mais importante deles é a beligerante oposição entre campo e cidade, bem como a
fuga de muitos dos servos para a cidade que gerou como consequência a Ascensão de um poder militar (Marx, 2007). Marx ressalta que essa fuga de servos para a
cidade ocorreu por toda a idade media e que estes eram impotentes
individualmente, frente à organização das cidades, fato que lhes obrigavam a se
submeter aos citadinos organizados. Neste ponto fica evidente a relação de
força e poder estabelecida entre indivíduos que, biologicamente iguais,
socialmente separados por condições econômicas, um se sobrepõe ao outro e o
subjuga, fazendo dele um escravo, e lhe obrigam a viver segundo seus desmandos.
Dizemos escravos, pois segundo Marx, o trabalho do proletário é grosso modo,
apropriado pelo capitalista, que emprega e sorve o lucro da produção do
empregado sem lhe retribuir justamente conforme o trabalho desenvolvido, ainda
que seja um trabalho meramente rudimentar. Marx (2007) ressalta ainda que estes
trabalhadores jamais conseguiram alcançar qualquer espécie de poder, uma vez
que seus trabalhos corporativos necessitavam aprender dos mestres de oficio, e
estes por sua vez, os ternavam submissos, e ressaltava que dadas às condições,
estes jamais conseguiram se organizar. “A necessidade de trabalho a soldo
diário nas cidades foi que deu origem à plebe”. ( Marx, 2007, p.77)
Marx (2007) diz que as
cidades eram verdadeiras associações organizadas e voltadas para a proteção da
propriedade, de forma a multiplicação dos meios de produção e segurança de seus
membros. Frente a uma sociedade
organizada e estruturada na necessidade e de manutenção e multiplicação do
poder, indivíduos dissociados e desorganizados jamais conseguiriam qualquer
forma de poder. Se submeter seria tão somente a opção. Aos artesões, os metres
de corporações serviam como nexo entre si e entre os demais mestres, de tal
forma que era impossível qualquer forma de barganha.
É importante na fala de Marx
(2007), perceber que mesmo a divisão do trabalho nas cidades se dava de forma
rudimentar, e ocorria entre as corporações individuais, onde cada trabalhador
dentro das corporações eles eram obrigados a conhecer ou aprender todos os tipos
de trabalhos. A falta de interação e a
distancia entre as cidades, segundo Marx (2007) e a falta de mais divisões de
trabalhos internos em cada corporação, fazia com que cada indivíduo se quisesse
ser metre, tinha que dominar amplamente todas as atividades da corporação.
Na concepção Marxiana, o
“capital natural-primitivo” era a soma das moradias, ferramentas e clientes.
Assim como o capital, a clientela também era herdada de pai para filho. Marx chama de um capital estamental e diz que
era um capital que independia de ser aplicado em uma ou outra coisa, mas tão
somente reinvestido nos meios de produção.
É o germem da acumulação de capital que gera a burguesia posterior.
Neste processo se observa ainda, com o advento das trocas de mercadorias e pelo
escambo do excedente o nascimento embrionário do capital mercantil.
Na etapa embrionária do
mercantilismo, o intercambio, a formação de uma classe especial de
comerciantes, a divisão do trabalho de produção e intercambio, praticas que
segundo Marx já existia nas cidades mais antigas e que começaram a surgir nas
novas cidades, ressalta ainda se tratar de uma pratica herdada de judeus. Essa nova pratica, possibilitou uma expansão
das fronteiras e ampliação das comunicações. Dessa pratica, surgem interações
entre cidades e com isso a especialização, pois cada cidade se especializará em
uma dada produção industrial.
Na luta contra a nobreza
rural os indivíduos se agrupavam e estabeleciam comércios entre as cidades
próximas e desenvolvia comunicações. Dessa interação e desse comercio vai
surgindo lentamente a figura do burguês que foi transformando sua vida
paulatinamente se afastando dos feudos, e quanto mais o comercio era
estabelecido entre as cidades mais eram estabelecidas as condições de alicerçar
da nova classe social. Diz Marx (2007) que a própria burguesia começa se desenvolver
após de dadas as condições, bem como sob a ação da divisão do trabalho em
diferentes funções e absorver das classes proprietárias quando no ela (a
burguesia) nasceu.
Marx diz que:
“Os indivíduos considerados
isoladamente apenas formam uma classe na medida em que se veem obrigados a
sustentar uma luta comum contra outra classe, pois de outro modo eles mesmos se
enfrentam uns ao outros, hostilmente, no terreno da concorrência” (MARX, 2007.
P.80).
No embate entre indivíduos entre se e de
classes, sempre haverá subjugados e sempre haverá sobreposição de classes sobre
classes, indivíduos sobre indivíduos, na dinâmica do empoderamento, em que
todos querem o poder e este se restringe a uns poucos. Os indivíduos dentro de
uma classe assumem seus papeis e aceitam suas condições e isso passa a ser tão
enfático que submetem à classe.
A divisão do trabalho que se
estabelece e somados ao grande intercambio entre regiões, e dessa interação, a
manufatura nasce e se estabelece. Marx fala que quando todas as nações estiverem
em luta comercial, ai a grande indústria terá sua produção garantida. Com isso,
ele quer espelhar no embate dos artesãos na tentativa de produzir de tal forma
a se tornarem mestre, e na disputa entre os mestres e depois entre os
burgueses, e subsequentemente entre as cidades, o embate entre as nações pelo
domínio do comercio global. Ao que nos
parece, tal analise não era descabida, uma vez que hoje, a dinâmica da globalização
nos coloca em verdadeira guerra ideológica, financeira e econômica.
Cabe lembrar que toda essa
construção, faz parte do pensamento marxiano e que tem como base a visão
materialista dialética, e que vai trazer para o pensamento filosófico, grande
importância conceitual, à medida que vem discutir a dimensão do trabalho, da
apropriação do individuo pelo individuo e das consequências sociais advindas desse
fenômeno crescente já em sua época.
Entender o processo de
desenvolvimento do capitalismo é de vital importância para quem estuda
pensamento politico e filosófico contemporâneo. Hoje é o capital quem dita às
regras da vida em sociedade, e se não se é capaz de perceber as forma de ação
dentro do sistema posto, o individuo se torna meramente como o artesão da época
de Marx, um opróbio diante de toda uma realidade posta e estabelecida, na qual
ele mesmo é incapaz de torna-la refletida e ou reflexiva.
Ora, a expansão do comércio
que resultou na acumulação de capital móvel, conforme é dito por Marx, lá nos
séculos passados, hoje nos faz compreender a dinâmica global de ação, dela
tiramos a compreensão de como se dará a construção do mundo de amanhã.
Principalmente que, dessa
burguesia nascente, vai se der como consequência, o surgimento de uma figura
importante e amplamente debatida em vários campos do conhecimento. O Estado.
Esse sistema segundo Marx,
destruiu, ideologia, religião, moral ao passo que criou “a história universal”,
de sorte que todas as nações e indivíduos passassem a depender-se mutuamente.
Destruiu a nacionalidade, e fez com que a relação de trabalho se tornasse
insuportável.
Por Jorge Bento
[1]
Para Marx, trata-se, pois da utilização do conceito de suprasunção do termo hegeliano(),
que implica em superar, aniquilar e
conservar. O conceito de suprasunção é fundamental para compreender o
pensamento de Hegel.
Fonte:
-KONDER, Leonardo.
Marx: Vida e Obra.7.ed. - . São Paulo:
Paz e Terra,1999. 154p.
- MARX, Karl. Vida e pensamento. Trad. Jaime A.
Clasen. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
- MARX, Karl. A ideologia alemã. Org Trad. Marcelo
Backes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
- PEGORARO, Olinto A. Sentidos da História. Petrópolis, Rio
de Janeiro: Vozes, 2011.
Comentários
Postar um comentário