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A HISTÓRIA DO PODER NA PERSPECTIVA DE KRAL MARX E ENGELS EM " A IDEOLOGIA ALEMÃ"



(Imagem retirada da internet: autor desconhecido)

O tema abordado é resultante da leitura da obra "Ideologia Alemã", escrito por Marx e Engels,  e foi desenvolvido tão somente em função da citada obra, ainda que em dados momentos, valeu-se de aportes teóricos de alguns outros autores. Trata-se da visão de Kral Marx  enquanto filosofia, acerca do poder, extraindo essa visão a partir do fragmento da obra Ideologia Alemã. Esse recorte faz necessário, tendo em vista a amplidão da obra de Marx, bem como a gama de conceitos e de linhas de pensamentos desenvolvidas pelo Filosofo alemão. Poderíamos nos ater aqui sobre o materialismo dialético  e falar de como ele se baseia em Demócrito e Epicuro para desenvolver seu pensamento acerca desse tema, na tentativa de superar Hegel e Feuerbach. Poderíamos discorrer sobre a crítica marxiana sobre a dialética hegueliana ou como ele mostra Feuerbach tentando trazer o céu para a terra, ou ainda atermos na batalha de explicar a história das sociedades humanas em todas os períodos históricos, evidenciando os fatores econômicos e sociais e os fatores materiais utilizados como instrumentos para tal. Mas ainda dentro deste tema, fizemos um recorte para o olhar sobre a construção do PODER e o empoderamento de classes dominantes, por deterem fatores de produção e estabelecerem seus domínios sobre os demais indivíduos. Para tanto, valer-nos-emos dos elementos textuais apresentados, em que são evidenciados os aspectos de relação social e os conflitos inerentes desse processo iterativos entre indivíduos. Somando-se a isso, traz à discussão Michel Foucault, com a visão de que o poder em si não existe, mas sim, a afirmação da existência de uma relação de poder, em que indivíduos se utilizam de diversos expedientes para demonstração de poder e sobreposição de seus pensamentos aos demais. O leitor observará que não foram abordados temas como existencialismo ou política e economia, na perspectiva macroeconômica, mas tão somente o desenvolvimento do poder, trazendo como fundo a luta de classes.

Em a Ideologia Alemã Karl Marx e Friedrich Engles se ocupam da temática proposta pelos jovens hegelianos, e nesta tônica traz alguns traços delineados e ou explicitados em seus textos os quais resolvemos , audaciosamente, tentar desvendar e trazer à luz das discussões  para melhor percepção de assunto de tamanha importância. Assim, questionar-se sobre, como se dá a construção do poder e seus efeitos em toda a sociedade, se faz ao mesmo tempo ,uma tarefa árdua e arriscada. Então, compreender alguns conceitos marxianos como materialismo histórico, Ideia absoluta e consciência critica seriam pertinentes. Mas é primordial a compreensão da “essência do homem em consonância com suas relações estabelecidas”. E aqui, se faz o recorte para a questão das relações sociais, em face da eleição de pontos ou marcos históricos, dentro da concepção histórica de progresso sem fim, em que se percebe na escrita de Marx a evolução das estruturas de poder e dominação do homem pelo homem.
 Nesta concepção, elege-se a propriedade privada como fator determinante do empoderamento dos indivíduos. Estes, valendo-se desse poder adquirido, tornam-se proprietários, primeiro das terras, enquanto fator decisivo para a produção primeira, a da subsistência; segundo, das ferramentas com as quais serão produzidos os artesanatos; terceiro, a  técnica de produção, e por ultimo a destacar, a apropriação da força produtiva dos indivíduos que, desprovidos dos fatores anteriormente elencados, se submetem ao julgo do trabalho servil para sua própria subsistência. É necessário dizer que os indivíduos submetidos ao serviço nem ao menos se dão conta de que neste processo, terminam por atribuir a outrem, mais poder, advindos da apropriação de sua força de trabalho, explorada sorrateiramente.  Neste contexto, interessa lembrar da percepção de Foucault quanto ao tema. Ele diz não existir poder, mas relações de poder. Essas relações são estabelecidas no convívio cotidiano, e são determinadas  por estruturas e superestruturas que contribuem para a eleição de uns   em detrimento de muitos e são determinantes para a manutenção das diferenças no uso do poder que mantem inalteradas as dinâmicas de poder no seio da sociedade. 
                                        (Foto retirada da internet: sensacao-de-poder-altera-o-funcionamento-do-cerebro-fazendo-com-que-seu-detentor-conecte-se-menos-com-o-outro-poder-chefe-abuso-de-poder-hierarquia-assedio-moral-1503529578470_300x300 (1))
Marx e Engels, na obra citada,  afirmam  a consciência humana como sendo intermediada pelo trabalho em sua organização  e nos faz compreender que as ideologias se dão a partir de condições materiais. Enfatizam que é a vida real quem determina a consciência, indo então, de encontro ao Hegel quando este diz que é a consciência  quem determina a vida ( Marx, 2007, p 10). E neste aspecto traz a baila, a compreensão que a infra estrutura,  e nela a perspectiva econômica, é parte importante e imprescindível para o reconhecimento do poder residente na “divisão do trabalho”. Marx (2007). Assim, a relação contida desde os primórdios da humanidade, são em si, relações de poder.

Traçar a evolução histórica do poder enquanto sendo construído na dinâmica do materialismo histórico é mister, contudo, deve-se lembrar que este não é o ponto central da obra, mas sim a concepção do comunismo como um “movimento real e que supra-sume (abole, suspende, conserva e supera)”  o estado como nos é apresentado. ( BACKES IN: Ideologia alemã 2007, P.11) . A ideologia alemã marca o nascimento do materialismo histórico e nesta obra, segundo Backes, no prefácio da obra, Marx e Engels se mostram céticos no tangente a possibilidade de supra-suncão completa da divisão do trabalho. No fragmento analisado, observa-se que que Marx traz a ideia da existência humana e toda a construção humana como  genes da História. O homem é ele mesmo o construtor de sua história. Essa afirmação traz implicações importantes para a sociedade atual. Assumir as rédeas de seu destino e começar a construir as bases de seu futuro é de vital importância.
Karl Marx começa com a seguinte premissa: “[...] a primeira premissa de toda existência humana e, portanto também de toda a história, é a premissa de que os homens, “para fazer história”, se achem em condições de poder viver” (p.50). Dai, entendemos que para haver  história da humanidade, é conveniente que exista meios que o homem possa viver, ou seja, tudo aquilo que dá condições e garantias da sobrevivência da espécie humana.
Marx classifica como primeiro “ato histórico” a produção desses meios de sobrevivência, ou seja, a geração desses meios para obter aquilo que garante a sobrevivência. Mas quais são esses meios de sobrevivência? É comida, roupas, bebidas, moradias e outras coisas.  Isso se torna condição para que se fundamente a história. Podemos entender que a criação material faz parte da história, ou seja, os bens que foram produzidos são marcos na história da humanidade. Ressaltamos neste ponto, o poder de dominação que se tem sobre as massas, aqueles que detém os meios de subsistência.  Marx coloca em observação três coisas que são fundamentais na concepção histórica. A primeira é o alcance e a significação deste fato. Para ele, os seus compatriotas não deram a atenção para isso ao passo que os ingleses e franceses souberam fazer, usando da História, a usaram para se libertar das amarras políticas e também dar para a historiografia uma base material para que possa ter explicação sobre as histórias da sociedade civil, do comércio e da indústria.
Outra coisa é que já satisfeita essa necessidade primeira, a ação de satisfazer e de adquirir a instrumentação necessária para tal coisa, conduz para outras necessidades que surgem pelo percurso. Consequentemente, essa criação de novas necessidades constitui agora o primeiro fato histórico. Por fim, a terceira coisa é que os homens sempre renovam suas vidas, diariamente. Mas como assim renovar diariamente a vida? Eles fazem outros homens, ou seja, se reproduzem. Essa é a relação entre homem e mulher, pais e filhos, ou seja, família. Pois bem, a família, no princípio, constitui a única relação social. Somente mais tarde, quando as necessidades se multiplicam, aparecem novas relações sociais, em virtude do crescimento do número de homens. A relação familiar passa a ser secundário e deve ser tratada de modo empirista existencial e não sendo adequada ao conceito de família.
Esses três aspectos da atividade social não devem ser considerados como três fases distintas, mas como três momentos que coexistiram desde o começo da história e desde o primeiro homem e que até hoje seguem, mostrando sua validez na história.
A produção da vida, tanto da própria vida no trabalho como da vida estranha na procriação, se mostra na condição de relação dupla. 
(Imagem retirada da internet: autor desconhecido)

De um lado, como relação natural, por outro lado, como relação social, no sentido de que se tenha cooperação com outros indivíduos, quaisquer sejam as suas condições, modos e a finalidades. Assim, pode-se deduzir que certo modo de produção ou certa fase industrial estão sempre unidos a um modo de cooperação ou a um estágio social. 
Entende-se esse modo de cooperação como força produtiva. A força de produção acessível ao homem condiciona o seu estado social e, portanto, a história da humanidade deve ser estudada e elaborada sempre ligada a com a história industrial e do intercâmbio.  Aí se mostra a conexão materialista dos homens, que é condicionada pelas necessidades e pelo modo de produção. É uma conexão que sempre assume várias formas e apresenta uma nova história, mesmo que exista qualquer nonsense de cunho político ou religioso que mantivesse unido todos os homens.
A partir dessas considerações que Marx fez sobre os momentos históricos, ele faz constatação que homem é um ser dotado de consciência e de linguagem. Elementos essenciais também para a ereção de poder e de dominação. Governa aquele que é capaz de convencer e de fazer crer.  
Marx também considera a linguagem como consciência, denominando de consciência prática. Assim como nasce a linguagem, nasce também a consciência das necessidades, da carência e do intercâmbio entre os demais homens e onde existe a relação, ela existe para mim. Portanto, a consciência é um produto social e sempre existirá enquanto existirem seres humanos. Também ela é imediato e sensível que nos rodeia, dos nexos limitados com outras pessoas e coisas, fora do indivíduo consciente de si mesmo. Ao mesmo tempo é consciência da natureza, que no princípio entra em confronto com o homem como poder absolutamente estranho, onipotente e inexpugnável, que diante dela, as atitudes dos homens são animais somente e se submetem como se fosse um rebanho de bois, portanto, uma consciência animal da natureza, a religião natural. Em todas estas facetas, as relações de poder se dão estabelecidas.
Essa religião natural ou comportamento determinado pela natureza, segundo Marx, é condicionado pela forma societária ou vice-versa. Como em toda a parte, a identidade entre a natureza e  o homem tem a sua manifestação de tal modo que a atitude limitada do homem para com a natureza condicionou a atitude de alguns homens para com os seus semelhantes e por sua vez, determinou a atitude limitada para com a natureza. Seguramente, a natureza não sofreu nenhum tipo de modificação histórica e por outro lado, essa consciência de necessidade de estabelecer relações com os indivíduos que os rodeiam seria o começo da consciência de que o homem vive, geralmente, dentro de uma sociedade.
Esse começo é animal, diz Marx, quanto à vida social. Nesta fase, existe uma consciência gregária, ou seja, uma consciência de que ele vive em rebanho. O que  diferencia o homem dos outros animais é que seu instinto é consciente. Essa consciência de rebanho se desenvolve mais tarde, pelo fato de que as necessidades se incrementam e a produtividade começa crescer, bem como a população. Aí podemos ver que começa a divisão do trabalho, primeiramente a divisão do trabalho no ato sexual, que posteriormente, torna-se uma divisão de trabalho espontânea, introduzida de forma naturalista, tendo como quesito os dotes físicos, as necessidades, etc.
A divisão do trabalho só ocorre em uma divisão verdadeira quando se tem a separação entre os trabalhos material e espiritual. Marx coloca como nota de rodapé a seguinte nota: “coincide com eles a primeira forma dos ideólogos, os padres”. (nota 21, p. 54). Quer dizer que a ideologia já estava presente entre os homens e que os padres eram os difusores da ideologia, no caso cristã. Então, será a partir desse momento que a consciência já poderá imaginar que é algo mais, algo mais distinto da práxis vigente, representar algo sem representar na realidade. Aí surgem as condições necessárias para a emancipação do mundo e a entrega para poder desenvolver uma teoria, teologia, filosofia e moral “puras”. Mesmo que estas coisas entrem em contradição com as relações vigentes, só poderá ter uma explicação usando o fato de que as relações se achem em contradição com a força produtiva dominante. Até mesmo dentro de uma esfera nacional  de relações, pode acontecer de cair em contradição, pois a contradição não se dá no seio da esfera nacional, mas sim, entre a consciência nacional e de outras nações, em outras palavras, entre a consciência nacional e universal  de uma nação. Ora, domínio das consciências é exercício de poder. Domínio dos meios de produção também é poder exercitado. 
Outra  abordagem de Marx é sobre a divisão do trabalho, que anteriormente ele coloca como surgiu. Aqui, ele diz que com a divisão do trabalho, esta dá a  possibilidade e a realidade de que as atividades, sejam elas materiais e espirituais, bem como o desfrute, trabalho, produção e consumo, caibam a diferentes indivíduos. A possibilidade de eles entrarem  em conflito, está no fato de que devem suprassumir[1] a divisão do trabalho. Com essa tal divisão, que traz todas essa contradições, e se coloca ao lado a divisão do trabalho na família e na divisão da sociedade em diversas famílias, opostas umas das outras, acontece que há uma distribuição desigual de trabalho, tanto no que concerne a qualidade tanto quanto a quantidade, bem como dos produtos. A família já se constituía a primeira forma de propriedade: as mulheres e os filhos eram escravos do pai.

A escravidão latente na família, mas de uma forma bem rude, é a primeira propriedade privada que já corresponde a definição dos economistas da época. Define-se como o direito de dispor da força de trabalho do outro e tanto como divisão do trabalho e propriedade privada, são termos idênticos. Um refere-se à atividade, o mesmo que o outro diz referente o produto da mesma.
Com essa divisão do trabalho, “está dada, ao mesmo tempo, entre o interesse do indivíduo na condição de indivíduo ou da família individual e o interesse comum de todos os indivíduos relacionados entre si” (p. 55). O interesse comum não existe, somente está na ideia como algo universal, mas que se apresenta no real, como uma relação mútua de dependência dos indivíduos que, entre os quais, aparece o trabalho.
Por fim, a divisão do trabalho nos oferece com exemplo de que os homens vivem na sociedade de forma espontânea, enquanto se dá. Sendo assim, tem uma separação do que é interesse comum e o que é interesse particular, enquanto as atividades não aparecem divididas de forma voluntária, mas sim de forma também espontânea. Até os atos próprios dos homens se erguem diante de um poder estranho e hostil, que o domina ao invés de ele os dominar. Assim, a partir do momento em que o trabalho entra em processo de divisão, cada um se move em determinadas esferas exclusivas de atividades, que lhe é imposto e do qual não tem como escapar.
Fica evidente no pensamento de Marx que uma das praticas de dominação e uso do poder se dá por meio da divisão do trabalho e pela posse da propriedade privada. Para o autor, a maior divisão do trabalho físico e intelectual é a separação entre cidade e campo.  Segundo o  autor, o antagonismo entre o campo e a cidade tem início na passagem da barbárie para a civilização, ou ainda, da saída do regime tribal para o Estado.  Contudo, segundo Marx (2007), com o aparecimento das cidades, surgem necessidades: “administração, da policia, dos impostos”, com a finalidade de se estabelecer uma organização comunitária. Desta organização, destaca-se a eleição de estruturas de poder, visando estabelecer as condições de manutenção do status quo das classes dominantes instaladas. Desse processo, tem-se então a separação da população em classes. Duas classes, que se baseiam diretamente segundo o autor, na divisão do trabalho e nos instrumentos de produção.  Enquanto a cidade figura como a concentração da população, dos instrumentos de produção e do capital, o campo é o oposto de tudo isso, isolamento e solidão.

Para Marx, o antagonismo entre cidade e campo se manifesta tão somente dentro da perspectiva da propriedade privada. Onde, segundo Marx, se evidencia mais clara e distinta a submissão do individuo a divisão do trabalho, submissão essa, que reduz os indivíduos a meros instrumentos de produção e ou animais urbanos e animais rústicos, cada um, de acordo o trabalho que se lhe impõe. Observe que para o autor, o trabalho é, pois, fundamental para se compreender o exercício do poder sobre o individuo, e enquanto existir esse poder de um sobre o outro, necessariamente existirá a propriedade privada.  Para que haja de fato comunidade, seria necessário o fim da divisão entre cidade e campo, mas que requer muito emprenho é o que diz Marx.
Marx afirma que a separação entre cidade e campo pode ser compreendida como a separação entre capital e propriedade da terra, o que seria o germe do capitalismo especulativo, ou capitalismo financeiro, que é independente da propriedade da terá, que se baseia tão somente na troca e no trabalho.
No pensamento Marxiano, aquela sociedade ainda insipiente nada mais era que um germem do capitalismo que estava a se organizar, tomando forma, seguindo os paços daquela que mais tarde se tornará tônica dos mercados modernos, em que as fronteiras comerciais suplantam as fronteiras geográficas, derrubam e alteram toda forma de pensamento em seus efeitos globalizante.
Observe que nesta concepção, o homem é objeto, somente “objeto Sensível”, Marx (2007), não é visto, pois, como atividade sensível, e todo forma de um contexto de ser social, mas meramente instrumento ou insumo de produção.
As consequências desse pensamento burguês inicial foi à eclosão de conflitos em vários aspectos, o mais importante deles é a beligerante oposição entre campo e cidade, bem como a fuga de muitos dos servos para a cidade que gerou como consequência a Ascensão de um poder militar (Marx, 2007). Marx ressalta que essa fuga de servos para a cidade ocorreu por toda a idade media e que estes eram impotentes individualmente, frente à organização das cidades, fato que lhes obrigavam a se submeter aos citadinos organizados. Neste ponto fica evidente a relação de força e poder estabelecida entre indivíduos que, biologicamente iguais, socialmente separados por condições econômicas, um se sobrepõe ao outro e o subjuga, fazendo dele um escravo, e lhe obrigam a viver segundo seus desmandos. Dizemos escravos, pois segundo Marx, o trabalho do proletário é grosso modo, apropriado pelo capitalista, que emprega e sorve o lucro da produção do empregado sem lhe retribuir justamente conforme o trabalho desenvolvido, ainda que seja um trabalho meramente rudimentar. Marx (2007) ressalta ainda que estes trabalhadores jamais conseguiram alcançar qualquer espécie de poder, uma vez que seus trabalhos corporativos necessitavam aprender dos mestres de oficio, e estes por sua vez, os ternavam submissos, e ressaltava que dadas às condições, estes jamais conseguiram se organizar. “A necessidade de trabalho a soldo diário nas cidades foi que deu origem à plebe”. ( Marx, 2007, p.77)
Marx (2007) diz que as cidades eram verdadeiras associações organizadas e voltadas para a proteção da propriedade, de forma a multiplicação dos meios de produção e segurança de seus membros.  Frente a uma sociedade organizada e estruturada na necessidade e de manutenção e multiplicação do poder, indivíduos dissociados e desorganizados jamais conseguiriam qualquer forma de poder. Se submeter seria tão somente a opção. Aos artesões, os metres de corporações serviam como nexo entre si e entre os demais mestres, de tal forma que era impossível qualquer forma de barganha.
É importante na fala de Marx (2007), perceber que mesmo a divisão do trabalho nas cidades se dava de forma rudimentar, e ocorria entre as corporações individuais, onde cada trabalhador dentro das corporações eles eram obrigados a conhecer ou aprender todos os tipos de trabalhos.  A falta de interação e a distancia entre as cidades, segundo Marx (2007) e a falta de mais divisões de trabalhos internos em cada corporação, fazia com que cada indivíduo se quisesse ser metre, tinha que dominar amplamente todas as atividades da corporação.
Na concepção Marxiana, o “capital natural-primitivo” era a soma das moradias, ferramentas e clientes. Assim como o capital, a clientela também era herdada de pai para filho.  Marx chama de um capital estamental e diz que era um capital que independia de ser aplicado em uma ou outra coisa, mas tão somente reinvestido nos meios de produção.  É o germem da acumulação de capital que gera a burguesia posterior. Neste processo se observa ainda, com o advento das trocas de mercadorias e pelo escambo do excedente o nascimento embrionário do capital mercantil.
Na etapa embrionária do mercantilismo, o intercambio, a formação de uma classe especial de comerciantes, a divisão do trabalho de produção e intercambio, praticas que segundo Marx já existia nas cidades mais antigas e que começaram a surgir nas novas cidades, ressalta ainda se tratar de uma pratica herdada de judeus.  Essa nova pratica, possibilitou uma expansão das fronteiras e ampliação das comunicações. Dessa pratica, surgem interações entre cidades e com isso a especialização, pois cada cidade se especializará em uma dada produção industrial.
Na luta contra a nobreza rural os indivíduos se agrupavam e estabeleciam comércios entre as cidades próximas e desenvolvia comunicações. Dessa interação e desse comercio vai surgindo lentamente a figura do burguês que foi transformando sua vida paulatinamente se afastando dos feudos, e quanto mais o comercio era estabelecido entre as cidades mais eram estabelecidas as condições de alicerçar da nova classe social. Diz Marx (2007) que a própria burguesia começa se desenvolver após de dadas as condições, bem como sob a ação da divisão do trabalho em diferentes funções e absorver das classes proprietárias quando no ela (a burguesia) nasceu.
Marx diz que:
“Os indivíduos considerados isoladamente apenas formam uma classe na medida em que se veem obrigados a sustentar uma luta comum contra outra classe, pois de outro modo eles mesmos se enfrentam uns ao outros, hostilmente, no terreno da concorrência” (MARX, 2007. P.80).

 No embate entre indivíduos entre se e de classes, sempre haverá subjugados e sempre haverá sobreposição de classes sobre classes, indivíduos sobre indivíduos, na dinâmica do empoderamento, em que todos querem o poder e este se restringe a uns poucos. Os indivíduos dentro de uma classe assumem seus papeis e aceitam suas condições e isso passa a ser tão enfático que submetem à classe.
A divisão do trabalho que se estabelece e somados ao grande intercambio entre regiões, e dessa interação, a manufatura nasce e se estabelece. Marx fala que quando todas as nações estiverem em luta comercial, ai a grande indústria terá sua produção garantida. Com isso, ele quer espelhar no embate dos artesãos na tentativa de produzir de tal forma a se tornarem mestre, e na disputa entre os mestres e depois entre os burgueses, e subsequentemente entre as cidades, o embate entre as nações pelo domínio do comercio global.  Ao que nos parece, tal analise não era descabida, uma vez que hoje, a dinâmica da globalização nos coloca em verdadeira guerra ideológica, financeira e econômica.
Cabe lembrar que toda essa construção, faz parte do pensamento marxiano e que tem como base a visão materialista dialética, e que vai trazer para o pensamento filosófico, grande importância conceitual, à medida que vem discutir a dimensão do trabalho, da apropriação do individuo pelo individuo e das consequências sociais advindas desse fenômeno crescente já em sua época.
Entender o processo de desenvolvimento do capitalismo é de vital importância para quem estuda pensamento politico e filosófico contemporâneo. Hoje é o capital quem dita às regras da vida em sociedade, e se não se é capaz de perceber as forma de ação dentro do sistema posto, o individuo se torna meramente como o artesão da época de Marx, um opróbio diante de toda uma realidade posta e estabelecida, na qual ele mesmo é incapaz de torna-la refletida e ou reflexiva.
Ora, a expansão do comércio que resultou na acumulação de capital móvel, conforme é dito por Marx, lá nos séculos passados, hoje nos faz compreender a dinâmica global de ação, dela tiramos a compreensão de como se dará a construção do mundo de amanhã.
Principalmente que, dessa burguesia nascente, vai se der como consequência, o surgimento de uma figura importante e amplamente debatida em vários campos do conhecimento. O Estado.
Esse sistema segundo Marx, destruiu, ideologia, religião, moral ao passo que criou “a história universal”, de sorte que todas as nações e indivíduos passassem a depender-se mutuamente. Destruiu a nacionalidade, e fez com que a relação de trabalho se tornasse insuportável.

 As relações de trabalho, o domínio dos meios de produção, a produção de consciências são mecanismos de exercício do Poder. Poder que como vimos vai se eregindo a partir da apropriação dos meios de subsistências, da força de trabalho familiar, que possibilita o acumulo de bens e capital, e a partir das narrativas históricas, se  da a produção de consciências, quando são recontadas histórias de conquistas e domínios das propriedades, são afirmados os direitos hereditários de posses, usufruto da propriedade privada. 
Por tais mecanismos se dá também, a perpetuação do poder que mantem inalterada a relação entre as classes, e desta compreensão, a necessidade imperiosa de contribuir para a formação de uma nova consciência. Tornar o povo consciente da liberdade que existe para além das ideias e conceitos tidos como imutáveis. Libertar as consciências para perceberem que suas narrativas são distintas das narrativas do poder dominante, que suas histórias tem outras conotações e que estas conotações precisam ser percebidas em função da necessidade de emancipação daqueles que ainda estão acorrentados pela limitada percepção do domínio ideológico estabelecido, ao qual submergem a maior parte da população, que é pastoreada como gado, servindo de seus cascos a seu couro, para manutenção das regalias daqueles  que pensam e determinem as formas de pensar dos subordinados.

Por Jorge Bento



[1] Para Marx, trata-se, pois da utilização do conceito de suprasunção do termo hegeliano(), que implica em  superar, aniquilar e conservar. O conceito de suprasunção é fundamental para compreender o pensamento de Hegel.


Fonte:

-KONDER, Leonardo. Marx:  Vida e Obra.7.ed. - . São Paulo: Paz e Terra,1999. 154p.

- MARX, Karl. Vida e pensamento. Trad. Jaime A. Clasen. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
- MARX, Karl. A ideologia alemã. Org Trad. Marcelo Backes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
- PEGORARO, Olinto A. Sentidos da História. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

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