" Somente com a tomada de consciência de que não há direito de superioridade, não deve existir privilégios e diferenciação entre pessoas, que os bens da nação é da coletividade e que o Estado deve existir somente se for em função do povo, somente assim haverá de fato uma nação poderosa e soberana".
A história oficial brasileira nos conta de um achado de um novo mundo, por parte dos portugueses, que percebendo a mansidão dos povos nativos e seu estagio de desenvolvimento tardio, não sentiram resistência em conquistar, dominar e apossar das terras achadas. Poderíamos também relatar esse processo através do olhar dos nativos, que viram suas terras invadidas por um povo diferente, que aparentava amistoso, mas que logo começou matar, escravizar e tomar posse das terras que antes eram dos povos nativos. Esse povo recém chegado se achava superior aos nativos, pelo acesso a armas, instrumentos e utensílios porfírios de sua cultura, achavam-se no direito de apossar de tudo quanto lhes convinham , pois entendiam que eram do centro do mundo e que todas as demais terras eram "o fim do mundo", por isso, se acham ELITE. (Gabriel Fernandino, 2015: Mestrando em Ciência Política pela UFMG. Bacharel em Relações Internacionais pela PUC Minas).
Bourdieu, segundo Gabriel Fernandino, apresenta a percepção da elite como minoria dominante nos diferentes aspectos da vida da sociedade como habitus, capital cultural, capital político, conceituação pela qual arrisco acrescentar as tradições como importante elemento ou ferramenta pela qual a elite se vale como controle das massas. As tradições aristocráticas e oligopólicas existem como importante mola retentora da ascensão dos indivíduos que não pertencem ao roll dos eleitos, dos melhores. Trata-se da dinâmica de manutenção do poder, que é transferido entre as gerações e grupos específicos (Fernandino apud Bourdieu, 1979;1989)
A dinâmica de manutenção de poder e transmissão se dá pela reprodução de hierarquias sociais,
a evidenciação de fatores históricos e enaltecimento de indivíduos a construção de relevância em construções culturais por padrões limitantes, imposição de valores e principalmente pelo uso de aspectos fideístas. É importante ressaltar, que tanto para Bourdieu, quanto para Fernandino, o direito pelo qual a elite se alça sobre as massas e resultado de um processo de crença. Processo pelo qual os valores e imposições simbólicas, tradicionais e culturais constroem tanto no pertencente ao grupo dos "melhores" quanto no grupo das massas a ideia concretizada na certeza de uma superioridade de uns sobre os demais. A elite se vale desse processo dinâmico para capitalizar os recursos oriundos dos vassalos escravizados para se tornarem mais poderoso, a medida em que constituem meios de imposição cultural, ideológica social, sendo o mais eficiente, o domínio das comunicações, como importante instrumento de constituição de consciências.
A constituição de consciências, trago o conceito lookeano da mente como um quadro em branco,e que para mim, vai sendo preenchido ao longo dos processos históricos, a medida em que se absorve as ideias e conceitos. As ideias dominantes permanecem enraizadas e terminam por constituir o modo de vida daquele individuo. Desta forma, a maciça campanha de demonização do comunismo e socialismo na cultura brasileira foi um processo tão forte no período da ditadura militar que ainda hoje os políticos se valem dela para ganharem eleições, valendo-se da crença do comunismo como mal a ser evitado. Veja como isso ainda é presente no imaginário do brasileiro. Numa pesquisa realizada pelo portal Uol noticias, (https://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/05/10/voce-acha-que-se-nao-fosse-pela-ditadura-militar-o-brasil-hoje-seria-um-pais-comunista.htm ), o portal traz uma afirmação do Coronel Brilhante Ustra ( conhecido como torturador e repressor da esquerda) que comandou o DOI-Codi entre 1970 e 1974, de que sem a repressão da esquerda, o Brasil teria se tornado Comunista. No mesmo texto, uma enquete leva a internauta a responder se acredita que a ditadura evitou a implantação do comunismo pelas esquerdas ou se a ditadura não evitou o comunismo mas foi período de torturas e crimes, ou se a pessoa não dispõe de opinião formada. Dos 870.620 votos, 80,23%, ate o momento em que redigimos, acreditam realmente que a ditadura militar evitou a implantação do comunismo no Brasil, enquanto 19,36% não acreditam nessa afirmação.
A campanha militar de construção do medo do comunismo se deu, inclusive, pela campanha de que que o comunista era antropófago e que seu prato predileto era crianças. Valendo-se da religiosidade do povo, campanhas diziam que o comunismo destruiria as religiões.
A elite, detentora ( na maioria dos casos aprosada por herança histórica) dos meios de comunicação, produção, utiliza-se dos ditames que ela mesmo estabelece para dominar e ditar o jeito de viver das pessoas, que na sua maioria, continuará acreditando que uns tem direitos e outros deveres. Com seu poder econômico, formulou uma ideologia de liberalismo e moralismo que normatiza e diz que o correto e viver aquele estilo. "Todo o discurso elitista e conservador do liberalismo brasileiro está contido em duas noções que foram desenvolvidas na USP – a universidade criada pela elite ante estatal paulistana – e que depois ganharam o Brasil: as ideias de “patrimonialismo” e de “populismo”. Se o patrimonialismo torna invisível a base real do poder social, ao estigmatizar o Estado e seus ocupantes, sempre que as eleições ponham alguém não palatável pela elite da rapina econômica, o populismo estigmatiza qualquer pretensão popular".(Jessé de Souza)
O Povo, GADO, caminha pelas baias destinadas a ordenha, de onde a elite tira a gordura, para se alimentar, enquanto o Gado-Povo, se alimenta com ração. "O capital econômico se legitima com o “empreendedorismo”, de quem “dá emprego” e ergue impérios, e com o suposto bom gosto inato de seu estilo de vida, como se a posse do dinheiro fosse mero detalhe sem importância." (Jessé de Souza)
E calamitosa a realidade brasileira, em que se percebe alienação da realidade política por parte do povo. As pessoas não sabem distinguir entre as perspectivas politicas das alas da direita e esquerda, não conseguem dizer por que a esquerda é ruim para a economia do país, e por que ela deve ser evitada, só sabe que não deve ser de esquerda. o adjetivo de esquerdista é para muitos xingamento, comunista é ofensivo, tal qual socialista.
Inevitavelmente devo concordar com o sociólogo Jessé de Souza, no Brasil a elite se vale principalmente da inveja que sente da classe média, que odeia o pobre e inveja o rico, é a elite do atraso (classe média).
Tomar consciência da realidade politica e se empoderar-se. Compreender que ninguém é superior, e que o coletivo deve ser priorizado em detrimento dos privilégios é fundamental para construção de uma sociedade justa e igualitária. Somente com a tomada de consciência de que não há direito de superioridade, não deve existir privilégios e diferenciação entre pessoas, classes, sexualidade, religiosidade ou qualquer outro meio de classificação, que os bens da nação é da coletividade e que o Estado deve existir somente se for em função do povo, somente assim haverá de fato uma nação poderosa e soberana. Acredito na gestão publica colegiada, em que as entidades civis compõem o conselho deliberativo e, por sua natureza, traduzem nas decisões tomadas, os anseios e necessidades dos representados. Acredito que tal forma de gestão pública, que tem seu germe nos conselhos componentes do controle social já hoje existente, seja a maior inovação na gestão pública...ainda que já exista enquanto prática de gestão como por exemplo na Igreja Católica, em que as decisões tomadas pelo superior antes passa pelo colégio dos consultores. No entanto, acredito que para isso, impera a necessidade laboriosa do despertar das consciências como forma de empoderamento e libertação do povo.
A gestão colegiada, ou por conselhos se dá pelo processo de desconstituição do político com profissão, pela organização social dos povos, a partir dos territórios de identidade, seguimentos representativos como entidades religiosas, grupos de sociais, associações de produtores, moradores, grupos étnicos entre outros tantos seguimentos. Cata entidade elege seu representante nas diferentes pastas da gestão pública. Esse representante tem direito a voz e voto, pelo qual ele decide em nome do grupo que representa. Cada pasta: saúde, educação, segurança, oberas, administração, etc, cada uma tem seu conselho, constituídos por membros de cada entidade, e cada conselho elege entre seus membros uma equipe gestora que decidirá conforme a decisão plenária. Desse processo, uma mudança profunda na forma de administrar municípios, estados e a nação, pois os representantes sairá direto do povo, só existirá enquanto representante se obter a anuência do povo, por meio da iniciação plenária em sua entidade de representação. Essa nova estrutura, se melhor delineada, pode inclusive acabar com o papel dos legisladores atuais, que teoricamente deveriam representar o povo, mas legislam em causa própria.
O povo precisa entender que é ele o ator protagonista desse teatro, e que sem ele nada pode acontecer. O povo precisa entender que é ele quem financia o Estado, e sem o dinheiro dele nada se paga. O povo precisa entender que o Estado deve governar para ele (povo), na totalidade, e por isso, privilégios jamais devem existir. Por isso, a gestão por conselhos deliberativos deve ser a saída, ela aproxima o povo do processo decisório, ela dá ao povo o direito de decidir no processo de criação de políticas publicas, na gestão dos recucos e na fiscalização de como se dá o gasto do dinheiro público.
(Portal Caritas: Roda-de-conversa-educação-contextualizada-e-agroecologia_EFA-Zé-Maria_Foto-Diego-Gadelha)
Por Jorge M. G. Bento
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