...se eles não nos fizerem pobres, jamais serão ricos. Poucos conseguem entender que a luta é de todos
A minha negritude é incómoda...
Ela grita o sangue dos meus antepassados escravizados...
Ela grita a dor das negras objetificadas como propriedade do prazer alheio.
Ela diz que toda riqueza dos brancos é minha. Eu produzi com meu sangue, e de mim foi tirada, a força.
Meu sangue banha, lava, edifica esse chão, como sacrificio vivo ao deus da ganância e do poder. Sou oferta viva, que em pedaços sou entregue no altar da corrupção.
Humanos subumanos nos tornam coisas vis.
Nos dizem nao termos direitos nem vez...
Dizem que nosso lugar é no tronco...mas tremem de medo de nossa força.
Por isso, usam a ganância dos nossos para convence-los e engana-los que serão como eles, é feitores se fazem para lutar contra nós.
Pobres e ignorantes, não vêem que se venderam ao diabo. Jamais sairão da lama e nunca serão como eles...se eles não nos fizerem pobres, jamais serão ricos. Poucos conseguem entender que a luta é de todos. A minha negritude incomoda porque diz a verdade da podridão de sua riqueza que fede a sangue inocente.
A minha negritude grita e clama a riqueza que produzimos e que não temos. Chora os templos que Construímos e nele nos dizem que somos do demônio...Construímos um continente, elevamos altares, igrejas e santuários. Mas nos chamam de demônios...traduzem tudo que se refere a nossa cor como ruim. E isso é dito como normal...não é normal.
São mais que força de trabalho perdida, são pedras preciosas desperdiçadas.
Quando entenderemos que não se é feliz sozinho?
Quando entenderemos que não há desenvolvimento isolado?
Quando entenderemos que desenvolvimento é real quando é mais forte por dentro?
Minha negritude grita sua ignorância que gera minha morte e pobreza. Grita sua incapacidade de entender que vivemos num universo sistêmico, intimamente ligados uns aos outros. E que sem um, o outro não existe. Que se um sofre, todos sofrem juntos...
Há ricos que não tem uma gota de suor derramado, e tão pouco trabalho realizado.
O suor do negro molhou o cimento e fez a liga que sustenta suas cidades. O Sangue negro tingiu de vermelho a história que queres ignorar, e banhou a bandeira que deveria ser vermelha.
Grito a dor dos meus, excomungo a ironia dos teus em dizer que somos fracos e preguiçosos...preguiça a sua de não ver. Preguiça a sua de não aceitar que nada és, nada foi e nada será...
Tu não entende que só és rico porque fez do outro pobre. Não entende que ao diminuir o outro, tu te reduz a nada. Minha negritude grita.
Grita negritude, grita...e faz ecoar o teu brado. Faz retumbar os tambores e chamar os teus pares para a batalha final. É hora de mostrarmos a força de nossa cor. Jutos, maioria, unidos seremos capazes de mudar a realidade. Mudar nosso destino. Grita, a minha Negritude Grita.
(Pintura na residência Jesuita em Itaici. Autor: Pe. Paulino)
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