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DO CUIDADO À PERCEPÇÃO DO AMOR: TRANSFORMAÇÃO INTERIOR E SOCIAL.

A Política do Cuidado: Uma necessidade, uma oportunidade de transformação e empoderamento! Oportunidade de desenvolver a graça recebida com o dom da Vida. A centelha divina que recebeu precisa ser alimentada com atos de bomdade, expressão de amor, sentimentos de carinho e misericordia. Tudo isso é possível através do cuidar-Amar.
(foto da net)
 Das espécies viventes, talvez a única que requer maior cuidado para o seu desenvolvimento pleno é a espécie humana. Na maioria dos casos, os filhotes nascituros tão logo após ganharem o mundo, se erguem em suas próprias pernas, andam, buscam alimentar-se e logo começam a vida independente. Na espécie humana, o tempo puerperal é de no mínimo dois anos, quando a criança se coloca a balbuciar as primeiras falas, e se embala nos passos mais seguros. Mesmo assim, requerem cuidados que se estendem até o início de sua vida adulta, e na maioria das vezes, de modo implícito, leva toda a vida.
Faz-se necessário o cuidado para que haja o desenvolvimento pleno do indivíduo. Mas ao que nos parece, o cuidado tem sido cada vez menor ao longo dos anos. Talvez uma consequência da sociedade pós-industrial que se tornou exigente com e prima por praticidade. Buscam-se pessoas prontas e acabadas, não se permite desenvolvimentos lentos, uma vez que a dinâmica da vida globalizada requer respostas tão rápidas quanto o surgimento das necessidades questionadoras.
Do esvaziamento da preocupação em cuidar, muitas consequências se amontoam numa sociedade que adoece e se torna sempre mais mortífera e moribunda. Curioso é a origem da palavra cuidado, advém do latim “cura” e tradicionalmente é associada a figura do sacerdote católico, facilmente empregada como designativa do ato de Curar a enfermidade de outrem. Percebe-se o esvaziamento do curar uns aos outros, pois a tônica da sociedade é de demonstração de força, de vitalidade e minimização das evidências de fraqueza. Não distante dessa nova tônica, uma das maiores crises da sociedade moderna, a crise existencial, traz como consequência a desconfiguração dos indivíduos como pertencentes a sociedade.
A perda do sentimento de pertença tem levado ao assombroso aumento de suicídios como consequência da depressão e das demais doenças associadas à despersonificação das razões da existência humana. Antecipa-se o fenômeno do angustiar-se, mecanismo de percepção da finitude.
Através da angústia o ser do estar-aí mostra-se como cuidado (Sorge). Cuidado do meu próprio estar-aí como ser-no-mundo e o dos outros em geral. O cuidar é um fenômeno ontológico fundamental, isto é, no fenômeno do cuidado o homem preocupa-se (Fürsorge) com o seu próprio existir e com o existir em geral. Isto porque o homem é um ser-no-mundo que, enquanto presença, é também um ser-com os outros o que lhe permite a abertura para a convivência. Esse fenômeno do cuidado se dá em uma temporalidade finita. (SANTOS, 2001, p.06)
A ausencia de cuidado gera a angústia, e esta se da em função da percepção da finitude do ser, por isso, cabe debruçar-nos sobre o tema para uma imersão nessa realidade. Importante elemento de alerta com o qual  o ser-no-mundo percebe sua interação e presença. Não obstante, poder-se-á dizer que a angústia é resultante da experiência existencial do ser que se apresenta e é no mundo. Como Afirma Heidegger (2002) “Se, portanto, o nada, ou seja, o mundo como tal, se apresenta como aquilo com que a angústia se angustia, isso significa que a angústia se angustia com o próprio ser-no-mundo” (HEIDEGGER, 2002, p.251). Ao angustiar, o homem vê desvelada a possibilidade do ser enquanto ser e diante das possibilidades evoca a necessidade do cuidado de si e dos demais.  Como dizíamos anteriormente, o ser enquanto ser, é ser de relação, e no relacionar-se com outros, deparar-se com as possibilidades, muitas das quais, distantes das possibilidades de resolução, o ser se angustia. É o ser-no-mundo na sua manifestação de pertença e interação com o mundo. Nas palavras de ilustríssimo professor, a "mundanidade do ser que se apresenta, se relaciona aos outros seres e no relacionar-se se angustia". Da angústia, a necessidade do cuidado. Observe que o cuidado implica em relação. Mas como resolver a questão da angústia se também essa se manifesta no relacionar-se? Diferencia-se pois, pelo desvelar paulatino e constante dos seres em constante apresentação de si. Em outras palavras, ao dar conhecimento de si e conhecimento dos demais em relação, a angústia do desconhecimento é atenuada. Abre espaço para o cuidar, ou seja o ser do ser-ai passa-se a ser-com, ser-em, ser-para o outro. E sendo, coloca-se na posição de quem cuida.
Observe que para Heidegger, cuidado é o próprio Ser do DaseinSer-aí. Em outras palavras, é a movimentação por meio de nossa previedade, ou seja, a percepção de nossa finitude, que por sua vez, se depara com aquilo que deve ser compreendido em nosso espaço e temporalidade, e por isso, evidencia  outra emergência de interpretação do ser que se desvela e no processo de compreensão, o desvelamento do outro quanto ser que se apresenta e se mostra possibilidade de forças ou fraquezas, a isso ele chama de Cuidado. Nesta perspectiva, o cuidado parte do logos, enquanto aspecto analítico da existência, perpassa pelo discurso, enquanto proposição de vida. Na proposição, se apresenta o sentido de compreensão, ou seja, torna presente o que é proposto. Assim, o cuidado, se configura como totalidade  das possibilidades existenciais do ser-aí, do ser que se apresenta, o ser-no-mundo em suas interações com as coisas e com os demais seres.
(foto da internet)

Ao nossos entender, o cuidado implica em ocupação de espaço e temporalidade, na qual o ser-aí, prima por se ocupar e investe parte de sua existência em configurar-se com o outro ser-no-mundo, tendo como referência o ser que se apresenta, a manifestação do ser que se apresenta, na sua essência.  O cuidar é perceber a íntima relação existente entre todos os indivíduos, tendo em vista a certeza da finitude de todos. Não é, contudo, nossa intenção fazer a conceituação do cuidado na perspectiva heideggeriana, nas definições de existência, facticidade e queda, mas se aproxima da situação de mundanidade na qual o ser que existe e acontece, é exposto a situações das quais não controla e por isso se angustia. Ou seja, o ser-ai na cotidianidade ocupa e é solícito, cuida e é cuidado, ama e é amado. Neste aspecto, o ser-aí não se volta para o seu próprio ser, mas se volta para o ser dos  outros, e lida com as sensações e desejos, virtudes e vícios advindos das relações. Trata-se do poder-ser, e podendo ser, abre-se as possibilidades. Não foge a concepção heideggeriana, mas também está nela, o entendimento de cuidado como amor. Por amor de si mesmo, o ser que se apresenta no mundo , enquanto ser de relação, cuida-ama. É existente e manifestante de si, enquanto ser de possibilidades, entre elas, pode amar. Amor que parte primeiro de si mesmo, e no transbordar do amor em si, ama os outros, enquanto efeito das relações estabelecidas.
Enquanto possibilidade, e compreendendo o cuidado como amor. Aceitar o fato de o amor ser transbordante, nos parece evidente uma realidade ainda não percebida na abordagem filosófica. O ser-ai, o ser-no-mundo, o ser que se apresenta é também o ser-no-outro. É ser-no-outro enquanto cuidado, amor transbordante. Ao transbordar amor, e por consequência estar no pensamento do outro, o Ser-ai, extrapola de sua existência, para a coexistência. E coexistindo é também  cuidado cuidante, passível de cuidado. Ao transbordar no amor de si, amando a outrem, o Ser-ai é ser-em. E sendo ser-em, é ser de possibilidades.
Para além da percepção existencial, no campo político, a perene certeza da finitude de cada um dos membros da sociedade erigida enquanto Estado, e também a convicta certeza da ereção do Estado enquanto mediador dos conflitos de interesses entre os membros da sociedade que o compõe. É imperativo ao Estado a prática do cuidado para com seus membros.
Importa que o Estado tenha certo que a morte, o enfraquecimento, o empobrecimento e adoecimento de qualquer de seus membros, torna a totalidade igualmente adoecida.
Emprestando das ciências biológicas o entendimento de sistemas biológicos, e compreendendo que o corpo humano é nada mais nada menos que um complexo sistema biopsicossocial de inter-relações, podemos afirmar que, assim como num processo infeccioso ou inflamatórios em um dos órgãos, compromete todo o corpo, tornando-o doentio, também a doença, pobreza, sofrimento, de qualquer dos membros da sociedade a torna doente. Desta forma, o cuidado enquanto política, se faz ação imperiosa e imprescindível para a manutenção do Estado, e principalmente, para que este se torne forte.  Observe que, ao cuidar de seus membros, o Estado cuida igualmente de si. Portanto, é a reversão do sistema entrópico, tornando o Estado imune a finitude, independente da finitude dos seus membros.
Ademais, a reversão da entropia, abre a possibilidade da reorganização do Estado enquanto mediador dos conflitos de interesses dos entes que o compõem. O Estado passa a ser ele mesmo, fomentador do desenvolvimento, num processo endógeno, sistêmico e cooperativo, com isso, torna-se ainda mais forte perante a existencialidade dos demais Estados. Fica claro que, impera a necessidade de uma visão mais apurada, pautada no amor de si, e para além do amor de si, no transbordar desse amor, de maneira que seja também amor de outros, e por outros.
No amar sistêmico, o fortalecimento de todos os membros. Para isso é imprescindível que   o governante seja ele mesmo cuidador. Mas, impera também, que os membros do Estado sejam imbuídos e movidos pelo cuidado de si e dos outros, para que , deparando-se com formulações políticas de desenvolvimento dos mais necessitados, não se sintam ofendidos ou diminuídos com o crescimento daqueles.
O empoderamento de diferentes membros da sociedade, e a erradiação do empoderar-se por diferentes camadas sociais, cria um conjunto sistêmico de empoderados, fortalece o Estado e lhe possibilita projetar-se para o relacionar-se com igualdade com os demais Estados empoderados. Para isso, é primordial que haja sentimento de amor, cuidado, dos membros para com o Estado. Para que estejam dispostos a lutar pelo mesmo, e gastar tempo e oportunidades no desenvolvimento do mesmo. Mas para que os membros possam amar o Estado, é preciso que o Estado também seja ele cuidador, amoroso, e providencial na vida e nas oportunidades e possibilidades da existência do Ser-aí.  


O ser-aí, aquele que sendo no mundo, é ser de relação, que ama e cuida, tanto dos úteis quanto dos entes, é também parte de um todo - O Estado, que para Hobbes  “Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum”.(Hobbes, Cap. XVII).  Se o Estado é erigido para dirimir as guerras consequentes das degradantes asseverações dos desejos humanos no estado da natureza, pode também ser o Estado a soma de forças, interesses e desejos de desenvolvimento mútuo, pautados na lógica do cuidado mútuo, a partir da compreensão do outro como parte do meu eu. Não esqueçamos que o homem é ser de relação, é ser social, e que na solidão torna-se alienado de si. Por isso é preciso associar-se e formar comunidades. Nas palavras de Hobbes: “O fim último, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente a liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição sobre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua própria conservação e com uma vida mais satisfeita”. (HOBBES, Cap.  XVII). Aparentemente tratar-se-ia tão somente do amor de si. Mas a proposta transcende, uma vez que torna-se impossível a constituição do Estado forte e vigoroso, quando uns exploram os outros.  A relação deve ser de mútua promoção. O cuidado deve ser de todos para com todos. E no cuidar, promover o empoderamento para que, na eventualidade da crise, da guerra ou da escassez, os membros de um mesmo Estado não sofram, pois são fortes e no cuidado entre si, se fortalecem como um todo..   
"Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento da felicidade; procura, ao invés, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes procura-o." (Bento XVI)  O sumo pontífice, na sutileza que lhe é característica, nos rasga o véu do secularismo, e nos apresenta o supra sumo da mensagem do Evangelho. O Amor, na sua versão sublime, não se nega ao desprendimento de si, visando tão somente a felicidade do outro.
As implicações desta verdade são, ao mesmo tempo,  desafiantes e questionadoras!
Enquanto desafio,  nos remete à percepção do outro como fonte e emanação do amor, motivo pelo qual as energias são empenhadas. Ao tempo que nos questiona se percebemos verdadeiramente o que é o objeto do amor.
Ao colocarmos o eros como catalisador das nossas forças vitais, deixamos ao chão, parte acessório,  ainda que, de força descomunal, importante para a sociedade. E com tal enveredar, diminuímos o real sentido e valor do Amor.    
O Amor  enquanto sentimento,  é decisivo vontade de Deus, e nos move em direção ao criador.  A medida em que o amor (agape) é cultivado em nosso cotidiano, por meio de decisão acertada de cuidar e fazer feliz aos próximos,   mais dele somos preenchidos, e com isso, nos tornamos ainda mais imagem e semelhança de Deus.
Questiona se somos conhecedores do amor, verdade divina, ou se fugimos do amor, por temermos as imperiosas necessidade do "decidir amar". Ama-se mais os cifrões,  vive-se num amor desmedido ao poder, ao ter. Mas ignora-se o ser do outro, que semelhante a Deus e aos outros, mendiga carinho, atenção, fidelidade, companhia delicadeza, alimento e bebida. Demanda-se cuidado, numa sociedade cada vez mais alienante e alienada de si mesma. Não cuida, não deixa cuidar e não aceita ser cuidada.
O Amor é evolutivo.  Promove o processo de ascensão do ser que se decide por amar. O retira da ação animalesca, bestialmente desordenada pelo domínio do eros sobre a racionalidade, que por vezes sucumbe aos vícios e,  na queda, leva ao chão a grandeza da força criativa dada por Deus como dádiva. E ao resgatar o ser dessa prisão na qual o mesmo se escraviza e até se despersonaliza, o amor promove a cura, dando-lhe a oportunidade de se fortalecer na  vida aqui, e lhe capacita aos degraus para o transcender. Como diz Bento XVI (2005), “ Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para as suas íntimas purificações, que ele procure agora o carácter definitivo, e isto num duplo sentido: no sentido da exclusividade — « apenas esta única pessoa » — e no sentido de ser « para sempre »”.  Na perspectiva que apresentamos, o amor é eterno, e por ele, o homem pode se eternizar, na medida em que vive o desapego de si, sublima sua mundanidade,  volta suas forças vitais para a contemplação do amor, nele, ama a Deus, a si, aos próximos e a toda a criação. Deve-se perceber que em sentido exclusivo, amor a Deus,  o sublime ato de deleitar-se no usufruto da maior dádiva. Dádiva essa que nos impele, melhor dizendo, nos impulsiona a amar ao próximo. Neste sentido, é uma derivação do amor a Deus,  ou melhor, ressonância ao amor a Deus. Ama-se ao próximo por ver nele a imagem, semelhança, presença e vontade de Deus, e por isso, o também é amado, não com outro Amor, mas com o mesmo amor com que se ama a Deus, mas de modo distinto.
Se a Deus se destina o amor na sua máxima expressão,  força, e entendimento, de forma a esvaziar-se totalmente, a ponto de deixar-se encher pelo amor de Deus, ao próximo se ama pelo transbordamento do amor de Deus recebido. E desta feita, quanto mais  se ama a Deus, mais se ama ao próximo, assim como a toda a criação. O percurso para isso perpassa pelo desprendimento. Pelo esvaziamento de si, e pelo humilhar-se.
Este último ato se deve pelo efeito sistemático escalonado do percurso para o amor de Deus. E por isso amar é decisão.  
Aquele que percebe-se necessitado de  conhecer o amor verdadeiro, coloca-se em busca incansável, primeiro de entendimento do que é o amor. Quando compreende o que é, vem  a vontade de experimentar o amor. Ao querer experimentar, percebe a necessidade de desprendimento das mazelas que roubam do homem o tempo e força. Então se inicia o esvaziamento de tudo que não comporta ou não combina com o amor, e do esvaziar-se a realidade posta, o homem percebe o quão grande miserável é sem Deus. E na humilhação de si, como diz mestre Ekart, o homem consegue ser merecedor do amor de Deus. Ao experimentar das gotículas desse maravilhoso dom, o homem jamais consegue se ver sem ele. Torna-se eternamente necessitado. E então dar-se a amar, e amando, o faz por completo, na totalidade de suas capacidades.
Por  isso, sente-se impelido a amar no próximo a presença de Deus.  E o faz sem distinção, e o faz mesmo quando o outro não é capaz de perceber   Deus, o amor, ou sequer as consequências do amor em sua vida. Isso porque quem transborda o amor de Deus não espera escapo de sentimento, pois ama na gratuitamente e na gratuidade do amar cuida. E cuidando ama cuidar. É presença, é escada, passarela e escondimento, se compraz com a felicidade alheia, e faz da felicidade do próximo sua missão.
Conformar-se e querer a vontade de Deus, assim, configurar-se-á a Ele. Deus na sua benevolência  providenciará a consolação necessária para abrandar o trânsito da tormenta. Há de certo, o bem a ser aprendido nela. Pois é impossível que a vontade de Deus seja puramente mal,  uma vez que Deus é bom.
(Foto da internet)



O Amor que não passa pelo desapego de si não é amor, é companheirismo. Por isso o mundo está tão abarrotado de companheiros e vazio de amantes. O amor tem cheiro de céu e gosto de eternidade. (Ian Farias). Por isso,  é triste ver que, como sociedade, nossas prioridades estão invertidas. Prima-se pelo mal, pelo MEU, e deixa-se definhar o amor. A degradação de toda sociedade perpassa pela degradação do indivíduo. O ser que se despersonifica é absorto de si, depara-se com o vazio de si, e se sente alienado do convívio social. Alienado da sociedade, é elemento belicoso. Por tanto, impera que seja reorientada a dinâmica  social para uma nova compreensão.


"Visto que a pessoa não é um objeto que se separe e observe, mas um centro de reorientação do universo objetivo, resta-nos orientar agora a nossa análise para o universo por ela edificado, a fim de iluminar nos seus diversos planos as estruturas, sendo preciso não esquecer que esses planos não são mais que incidências diferentes sobre uma mesma realidade.” (2004: 24-25)


"Tal é a pessoa: encarnada em um lugar, engajada num tempo, e entre os homens. Mas o homem, ser natural, é mais que um ser natural: transcende a natureza. Não se reduz a um conjunto de funções ou de reflexos combinados. Sua transcendência em relação à natureza se afirma por vários sinais: só ele conhece a natureza, só ele a transforma. Mais ainda: é capaz de amar” (MOIX, 1968: 135)


A fórmula exacta do mandamento é: ama a pessoa, ao passo que a da norma
personalista diz: a pessoa é um bem com respeito ao qual só o amor constitui a atitude
apta e válida. A norma personalista justifica, pois, o mandamento evangélico.
Tomando-a com sua justificação pode-se, por conseguinte ver nele uma norma
personalista. Wojtyla (1999, p. 32):


Não é que seja somente caritatismo, mas ao contrário do caritatismo,  por transbordar de Amor em Deus, a caridade é plena. Uma alma que se embriaga do amor Divino, não suporta ver as infâmias da desigualdade, opressão e escravidão.  Por isso grita, pois deseja ardentemente que mais almas se unam a Deus em tamanha comunhão.
E por isso,  ainda que chora e reclama na sua humanidade que cobra o engrandecer,  cruvar-se e se é resignado com a humilhação provenientes dos desconhecedores das benesses de tais martírios.  Humilhar-se no cuidado uns dos outros, promovendo a emanação do amor te faz necessitado de Deus, e reduzindo-se ao nada que já é, Deus que é Perfeito, se compadece da criatura por ele feita, a reveste com a fagulha da consolação.
A alma consolada pelo Amor de Deus, quer na gratuidade,  generosamente, levar tamanha graça aos seus convivas, isso é, cuidando para que os demais consigam perceber em si, os memos méritos da graça . E por isso entende que é necessário a estes, condições de humanidade em esfera social.
Enquanto luta por sobreviver,  Deus é para a alma humana uma muleta, escora, bóia salva-vidas.  Mas quando desprovido de preocupações materiais, e bem instruído no caminho espiritual,  a alam caminha a passos largos rumo a Deus.
O cuidado é despojamento, esvaziamento e alegria. Uma felicidade incontida em se por a serviço aos demais. 

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