A santidade não é a ausência de pecados, mas é o desejo de estar na presença de Deus. E o desejo de estar com Deus é incompatível com o pecado. Mas onde encontrar Deus? Como não estar em pecado?
A ausência dos pecados vai crescendo na medida em que esse desejo de estar na presença de Deus vai crescendo, vai se transformando em necessidade permanente da presença de Deus. Entretanto, cresce junto a certeza do outro como manifestação de Deus em nossas vidas. Assim, a santidade é saber reconhecer e reverenciar a presença de Deus no próximo, principalmente nos mais necessitados.
Talvez muitos percam muito tempo buscando um Deus no céu, um Deus de poder e punitivo, distante da humanidade, alheio aos sofrimentos humanos. Que impiedosamente vai cobrar de suas criaturas uma vida ascética impecável. Também estes encontrarão a Deus, mas num percurso mais longo, demorado, e cercado dos riscos de se perder, ao prender-se mas estruturas de poder que nos cativa e extravasam nossos fetishs, nos gera fama e boa imagem.
Mais rápido e bem mais profundo é o encontro com o Deus que é conosco, peregrino na história da humanidade. O Deus que faz a sua via-sacra conosco, contemplando e chorando as nossas dores. Percebendo e apontando caminhos pelos quais nos rebaixamos ao ponto de sermos elevados pelo Amor de Deus em suas criaturas. Deus está nos necessitados, excluidos, marginalizados, naqueles que são invisíveis aos olhos dos que desejam somente poder e fama. Mas é muito real e visível aos corações dilatados e transformados pelo amor. A empatia gerada pela dilatação do coração faz com que a visão do coração alcance tamanha sensibilidade a ponto de, para além de ver, sentir a dor do outro. Esse dilatar torna as fibras cardiacas incompatíveis com o pecado. Ainda que eles venham existir, não é algo próprio daquela nova realidade. Pois a nova realidade daquele que foi humanizado é uma realidade de aproximação da presença divina no próximo. E isso expulsa o mal que leva ao pecar. Purifica, potencializa as relações humanas ao máximo da humanidade, cada um se transforma em humos, onde as sementes de amor germinam em sentimentos altruistas e transformadores. Por Alteridade, o individuo que se permite amar ao próximo, a pesar das fragilidades dele, entende quão vulnerável a condição humana, entende quão sublime é a humanização na transformação das relações sociais na construção de um mundo de paz. É caminho de santificação a humanização de si, para se colcar na pele e nas posição e vida do outro e, sentir, chorar, sofrer suas dores. Movimento de extrema evolução que só acontece com quem se torna capaz de se dispir, dispor de suas verdades prontas e fabricadas pelas convenções sociais dominantes e determinadas pelas estruturas de poder. É caminho de santificação amar o próximo, e se necessário, perdoar-lhe as falhas tantas vezes quanto necessário.
É caminho de santidade vivência e empenho na construção de um novo mundo. A civilização do Amor.
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