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Do Ser Cristão e do rito de passagem pela Cruz



"O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado."(Is 50,5-7)
Ser cristão é ter coragem de viver o tempo da Cruz, e esperar confiantemente em Deus.
Medite todos os dias sobre tua Cruz. E quanto mais o faça, mais percebe que é necessário mergulhar nesse mistério grandiosos. Um rito de passagem  que,  por menos que dure, é eterno. Jesus mesmos ressurreto e glorioso, nos mostra suas chagas. Os Estigmas de sua passagem pela Cruz. Isso nos fortalece e nos prepara,  nos mostra que ao transitarmos pela Cruz, jamais esqueceremos dos ensinamentos ali aprendidos. Ora, se  "Cristo não procurou a sua própria satisfação,"(Rm 15,3)  , e como está escrito: "Os ultrajes dos que te ultrajavam caíram sobre mim"  (Rm 15,3),  é  acalentador repousar nosso rosto choroso no ombro de Cristo e deixar que ele nos console.
Eu já sofri muito ouvindo críticas infundadas e já chorei muito com as pedradas recebidas. Custou muito  entender que a Cruz é rito de passagem. Sofri muito até perceber que ao cristão,  a Cruz é certeza. Meditar sobre a expressão "toma tua Cruz e siga-me" me leva a entender que,  para seguir Jesus Cristo eu devo fazê-lo sendo quem sou! Jamais o que outros querem que eu seja. Mergulhar no mistério da Cruz ainda nos faz entender que qualquer que seja os que convivam conosco,  na cruz,  diante de nossa Cruz só restarão os que realmente nos amam. Os demais, zombarão, cuspirão, tripudiarão, insultarão... E se não for assim, fique triste pois você certamente não estará sendo cristão.
Ao cristão compete carregar sua cruz pela via dolorosa. Seguir o caminho do calvário e deitar na Cruz, para ser pregado nela, e depois que o suspenderem no madeiro da Cruz,  como via de exemplificação aos demais, entender que somos sopro divino e como tal, a Ele retornaremos, e que isso é certo ao cristão,  pois sofrimento maior Jesus passou para nos libertar. Ele mesmo nos diz: "Eu sou aquele que vive. Estive morto. Eu tenho a chave da morte" (Ap 1,18).
E quando tudo que os outros puderem fazer pra demonstrar o desamor estiver consumado, sairão batendo no peito a bradar a Justiça realizada. E então voltarão vazios de qualquer sentimento de amor e misericórdia,  pois são todos, juízes e executores da justiça, ao invés de amorosos distribuidores da misericórdia.
É hoje,  o dia do meu ser,  é agora o momento do meu existir. O ontem me diz como e em que devo investir, e o que devo evitar e até fugir. Diz o Senhor "Voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo.  (Jl 2,12-13)
Deus perdoa com facilidade, a sociedade ao contrário, tiraniza e trucida.
Todas as palavras mal ditas, os olhares de ignorância,  as vezes que olhando não vêem, servem pra mostrar que o caminho dos cristãos é repleto de convivas, momentos festivos e até cantos de honras, mas a cruz é lugar de solidão, e depois,  de diálogo com Deus. E nesse diálogo se tem a melhor oportunidade de dizer "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito! (Lc 23,46).
Mas a cruz é rito de passagem.  Nela Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos,  (2Cor 4,8) pois não é cativeiro, não é sepultura,  não é presídio. É estágio de nidificação das vaidades, luxúrias, arrogâncias, teimosias, prepotências,  auto-suficiências, mesquinharias, intolerâncias, infelizmente" Nós ofendemos o Senhor, nosso Deus, nós e nossos pais, desde a juventude até ao dia de hoje, não escutamos a voz do Senhor, nosso Deus". (Jr 3,25b) Ao passar pela Cruz, o cristão entende quem ele realmente é, passa entender quem é cada um dos que lhe cercam, e perceber a diferença entre a religião pregada e a religião vivida. O profeta nos  diz: "Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus." Is 58,1-2a A religião falada é de muita realeza, a vivida é por vezes pobre do Amor de Cristo. O que está cheio de amor transborda amor, não o fel. A religião falada e vivida tem que ser a mesma. Cristo nos ensina,  mas só aprendemos de fato ao fazermos a experiência da Cruz. É POR MEIO DELA que" Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados" (Mt 1,21).
Na cruz aprendemos a ser essência.  Não há maior aprendizado que o tempo de Cruz. Ali,  naquele instante entendemos a importância de viver intensa e fervorosamente cada momento com quem o dedica a si.
Meditar a cruz ainda nos faz aprender esperar que surjam Josés que intercedam por ti e que tenham a capacidade de te tirar dela. Pois  sendo a cruz um rito de passagem, é escola de paciência,  universidade de amor e gratidão.
É experiência de comunidade,  pois Maria e João choram juntos a dor e sofrimento de Jesus. O que percebemos dos nossos chorando e sofrendo conosco as nossas dores e angústias. E depois,  comunitariamente se recolhe os restos mortais, para prepará-lo ao ressurgir da vida em toda sua glória e esplendor, proveniente da Graça Divina.
E não importa quem seja, qual seja a forma de passagem. Todos em dado momento passarão pela Cruz. Mas depois da Cruz, a certeza de ressurreição em Cristo. Por isso não te importa o tempo que dure tua estada na Cruz,  importa sim, saber aproveitar desse tempo para experienciar do diálogo mais puro e verdadeiro com Deus, para compreender o que ele quer e espera de cada um.   E nesse diálogo,  renovar as súplicas, pois "Nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas. E foi atendido"  (Hb 5,7). E nesta compreensão,  saber esperar pelos que retirarão os restos mortais, para prepará-lo para uma vida de intensa celebração do Amor de Deus.
É nas palavras do livro Sagrado que reside nossa esperança e confiança pois, "Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam".  (Hb 9,28).  Eu espero e confio na misericórdia do amor de Deus.  E me lavo e sou  purificado no sangue do Cordeiro. E no Coração de Jesus. Poderemos rezar confiantes: "Ó Deus de misericórdia, iluminai nossos corações purificados pela penitência. E ouvi com paternal bondade aqueles a quem dais o afeto filial. Por Cristo, nosso Senhor."

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