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Análise Institucional de Práticas Formais de Estratégia

Análise Institucional de Práticas Formais de Estratégia
Uma leitura dirigida do artigo com mesmo titulo.
Introdução

• As práticas administrativas vêm reformulando continuamente o conceito de estratégia e o desenvolvimento dos estudos na academia;
• A estratégia é vista no Brasil pelo aspecto normativo de caráter formal sob influência dos agentes estratégicos;
• As organizações sofrem pressões ambientais constantes para se tornarem mais homogenias. Essas pressões são de natureza coercitiva, normativa e mimética:
o Coercitiva
o Normativa
o Mimética
• Academia e organizações empresariais são simultaneamente estruturadas e estruturantes na área de administração em geral e da estratégia especificamente;
• Sempre haverá circularidade entre teoria e prática, uma vez que existe a relação de dualidade entre elas;
• Devido o caráter utilitarista e pragmático, fatores valorizados pela sociedade moderna, o mundo empresarial utiliza pressupostos teóricos que são acompanhados de conteúdos prescritivos para normatização de aspectos estratégicos;

A prática formal de estratégia

• Machado-da-Silva et al (1999) entendem que, em sentido amplo, a estratégia corresponde a uma prática social usual na esfera de atividade relacionada às organizações modernas. Como tal é condicionada pela relação entre instituição, interpretação e ação dos atores sociais significativos em cada situação espaço temporal delimitada.
• Para o autor do presente artigo, na visão de Whittington (2002), prática é algo que se obtém através das experiências do passado e práxis da experiência obtida no presente.
• Segundo a formulação, disseminação e implementação da estratégia empresarial torna-se necessário compreender o processo de tomada de decisão, os atores e recursos envolvidos, bem como aspectos interpretativos e relacionais que constituem os componentes de contextualização das práticas;
• A relação entre o que se produz na academia e o que se realiza na prática não acompanha uma lógica de transposição linear racional diferentes níveis de acesso e diferentes níveis de interpretação sobre aquilo que se produz na academia.
• Em meados do século vinte, com o avanço competitivo impulsionado pelo período pós-guerra, origina o campo de estratégia empresarial e, após a remodelação da disciplina de negócios, surge no mundo corporativo a prática da visão estratégica;
• Motta (1999) observa a respeito da formalização de procedimentos específicos para estruturação do planejamento estratégico da seguinte maneira:

O planejamento estratégico aparece numa época em que a visão predominante na teoria administrativa, ainda, era a de explorar ao máximo as dimensões racionais da gerência para dominar as ambigüidades que surgiam no ambiente. Essa visão valorizava o aperfeiçoamento de métodos racionais de ação administrativa para produzir maior eficiência e eficácia na antecipação de mudanças. O planejamento estratégico viria, assim, preencher a necessidade de se utilizar métodos mais racionais e analíticos na criação de futuros alternativos. A ênfase nesses métodos foi de tal ordem que praticamente se inaugurou um novo campo de estudos na administração.

• Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) denominam a chamada escola do planejamento como aquela que concebe a formação da estratégia como um processo formal. Há uma divisão de trabalho e atribuições entre os executivos principais da organização e os técnicos planejadores;

...o executivo principal deveria permanecer como arquiteto da estratégia – em princípio. Mas na prática, este arquiteto não deveria conceber os planos estratégicos, mas sim aprová-los. Isto porque juntamente com o planejamento vinham os planejadores, os principais participantes do processo de acordo com esta escola.

• Para Whittington (2002), a importância da prática formal se dá pelo fato delas serem especificamente formatadas por grupos de referência de uma comunidade relevante, tais como firmas de consultoria, governo, escolas de gestão, empresas lideres.


Bases cognitivo-culturais da institucionalização da estratégia formal

As referências cultural-cognitivas que possibilitaram a institucionalização das
práticas formais da estratégia empresarial foram nada mais do que alguns dos mais importantes pressupostos institucionalizados na modernidade.
O autor adverte para os aspectos mais significativos que devemos considerar em nossa análise das práticas formais da estratégia:
-a institucionalização da atividade de planejamento enquanto função elementar do administrador moderno.
-o pragmatismo norte-americano com sua ênfase no utilitarismo econômico.

Segundo o autor o utilitarismo econômico é elemento fundamental ao se estabelecer as diferenças entre as instituições políticas norte- americano e as encontradas no continente europeu. O estado de bem estar social europeu e o neoliberalismo americano. Além disso, o utilitarismo econômico representa
em si mesmo uma referência tanto normativa como cultural-cognitiva, institucionalizada que
foi na modernidade, sob a égide de pensamento econômico universal (Polanyi, 1975).

Grande contribuição ao pensamento da estratégia enquanto planejamento é vem dos autores clássicos da administração: Para Fayol o planejamento eleva-se ao status de uma prática essencial na função administrativa... Uma atividade privilegiada na obtenção de desempenho superior.
Já em Taylor: redefine-se o papel do administrador, propondo a expansão das atividades funcionais dele para além da simples supervisão do trabalho operário.
Pode-se considerar que a função de planejamento enquanto atividade essencial do administrador contribuiu para a significativa elevação do status do administrador nas sociedades contemporâneas.

A esse respeito, Motta e Vasconcelos ( 2004, p. 37) afirmam:

...a importância do administrador aumenta sobremaneira na teoria de Taylor. Antes, ele participava da produção apenas em pequena escala, agora sua participação é infinitamente maior, já que precisa planejar exaustivamente a execução de cada 8 operação e de cada movimento. Os administradores que agora teriam um papel muito mais importante existiriam em número muito maior, seriam os cabeças do processo. Aos operários caberia apenas executar estritamente as operações planejadas.

Segundo o autor a consolidação do planejamento enquanto pratica administrativa perpassa pelo cientificismo do inicio do século XIX, altamente influenciada pelo pensamento progressista de base iluminista e das idéias administrativas do positivismo. Outra importante influência tem origem no pensamento militar, que teve grande papel na institucionalização dos princípios burocráticos de previsão e controle (Weber, 1974; Tragtenberg, 1992). Fato que demonstra as afirmativas anteriores é o modo de produção fordista.

Característica da população norte americana de primar sempre por soluções praticas, de fácil aplicação e utilitarista. Vários autores citam este fato como sendo importante na disseminação das idéias estratégicas. O Pragmatismo é uma forma de pensamento que marcou o contexto norte-americano durante o século vinte.
De acordo com Bertero (1983), uma das vantagens mais significativas das práticas de estratégia é o fato de serem voltadas especificamente para a prática gerencial e para o resultado organizacional.
O modelo pragmatismo americano da uma visão de necessidade em levar para a empresa idéias e estratégias que podem realmente serem adotadas, por ser útil, pratica e fácil de implantar. Isso contribuio para a disseminação da estratégia pelas empresas daquele país. Motta (2000) chama a atenção para tal ocorrência ao lembrar que, atualmente, praticamente tudo no mundo empresarial recebe o atributo estratégico: estratégias de recursos humanos, estratégias de marketing, gestão estratégica, só para citar algumas expressões tão populares nas empresas contemporâneas.
O melhor exemplo são os chamados modelos de análise estratégica. Eles somente foram popularizados na própria medida do reconhecimento de sua utilidade e rápida aplicabilidade no meio empresarial, especialmente das grandes corporações norte-americanas. Por exemplo, o modelo de cinco forças de Michael Porter, uma ferramenta de análise da estrutura de um setor produtivo, torna-se tão popular que se estima o seu uso em 25% das empresas nos Estados Unidos no início da década de 90 do século vinte (Bain apud Ghemawat, 2000).
Em relação à popularização desta ferramenta, Ghemawat (2000, p. 38) afirma o seguinte:
...o fato da estrutura de ‘cinco forças’ visar preocupações de empresas em vez de política pública, sua ênfase na extensa competição por valor em vez da competição entre rivais existentes e sua (relativa) facilidade de aplicação inspiraram numerosas empresas e escolas de administração a adotar seu uso.

Outros exemplos de ferramentas ou estratégias são: as matrizes de portifólio da Boston Consulting Group, a matriz da GE (desenvolvida pela consultoria McKinsey), o modelo do PIMS, e mesmo a célebre análise SWOT foram reconhecidos pelo meio empresarial, muitos mais pelos seus atributos utilitários do que pela sua legitimidade científica (Bowman, Singh e Thomas, 2002; Ghemawat, 2000).


vários autores indicam que a área da estratégia surge decisivamente em uma disciplina do curso de Harvard, política de negócios, que foi reformulada para atender a necessidade na época por foco na prática empresarial. A própria história da sistematização do campo da estratégia tem relação com esta escola.
Importante ponto de ruptura no planejamento estratégico decorre da sua relação com o contingencialismo (Motta, 2000; Donaldson, 1999).
A teoria contingencial tem por premissa fundamental o questionamento do pressuposto taylorista the best way, inquestionado até meados do século vinte.
é determinante do tipo de estrutura mais adequada para o máximo desempenho (Donaldson, 1999).
Verifica-se um tratamento no mesmo tipo de lógica racional: em lugar de one best way passa a se considerar several best ways, dependendo das circunstâncias que podem ser objetivamente identificadas. Pragmatismo e utilitarismo continuam a ser as referências estratégicas.

Realmente, a partir do relativismo racionalista que constitui pressuposto na idéia de contingência, o conceito de ambiente organizacional passa a ter mais sentido no meio organizacional, bem como a sua importância enquanto fator relevante para o desempenho das organizações (Motta e Vasconcelos, 2004). Também cabe verificar o papel relevante da área de estratégia na disseminação do conceito de ambiente (Motta, 1999), que constitui uma referência cultural-cognitiva altamente difundida na sociedade moderna.

Metodologia adotada

O artigo aqui apresentado trata-se de ensaio teórico, produzido pelos autores: Clóvis L. Machado-da-Silva, Fabio Vizeu. Para a confecção do mesmo adotou-se a perspectiva institucional de análise para verificar como os mecanismos normativos são utilizados por agentes sociais significativos para a disseminação e a institucionalização de práticas formais de estratégia em organizações.
Estudou-se as praticas teóricas estratégicas a serem implantadas a níveis organizacional. Planejamento estratégico como ferramenta técnico-gerencial.


Considerações finais

É facilmente perceptível na construção deste artigo a vontade do autor demonstrar que em termos de constatação verifica-se que a formalização da área de estratégia empresarial de maneira pragmática e utilitarista restringiu tanto o campo de conhecimento como o de aplicação.
Do ponto de vista da institucionalização no mundo empresarial a abordagem predominante é normativa e formalista, privilegiando o como fazer. Em decorrência, há conseqüências não triviais para o desenvolvimento da pesquisa. A necessidade instrumental acaba por orientar as pesquisas na direção de busca de resultados, especialmente via métodos quantitativos. Na concepção do autor questões que poderiam relacionar melhor a teoria com a pratica ficam de lado ao se pensar estratégia. Como bem observam Van de Vem e Johnson (2006), qual é efetivamente o problema da relação entre teoria e prática no campo da estratégia organizacional. a distância entre teoria e prática decorre do próprio problema da lógica de produção do conhecimento no mundo acadêmico?
Endereçar questões como essas são importantes para a produção de conhecimento substantivo no campo da estratégia. Remetem à possibilidade de conversação entre perspectivas com diferentes origens como aquelas orientadas pela abordagem econômica e pela perspectiva organizacional.
Os autores deixam bem claro que na verdade, o que vale mesmo, tanto em termos de teoria quanto estratégia pratica para as organizações, são os que têm fácil aplicação e real utilidade. Deixam-se de lado os tratados que requerem maior estudo para serem compreendidos e demandam grandes esforços para se aplicarem.
“A possibilidade de construção de uma explicação renovada sobre a área da estratégia empresarial como campo de conhecimento com enorme potencial de desenvolvimento científico está, pois, em questão. É com uso do potencial analítico e crítico das perspectivas explicativas que se pode avançar e superar as limitações que impedem o avanço do conhecimento no campo da estratégia empresarial”.

Ao se abordar a interpretação dos atores sociais há necessidade de se aprofundar em cognição-cultural e estruturas cognitivas. A análise de como a área de estratégia empresarial se constitui a partir de referências cognitivas estruturadas no meio empresarial pode servir de base para a construção de novas referências na prática e no pensamento empresarial.
Os autores demonstram que o estabelecimento da estratégia empresarial segue a lógica estruturacionista em que estrutura, agência e interpretação estão relacionadas segundo um esquema de circularidade recursiva (Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate, 2005). Estas agências se apresentam em dois sentidos: primeiro a promoção da estratégia por parte dos pensadores partindo da ruptura com as idéias dos clássicos. A agência para os autores é expressa pela reconstrução de certas referências cultural-cognitivas, que circundam o meio empresarial.
Outro aspecto aqui abordado é à ação direta das firmas de consultoria na popularização das práticas formais de estratégia, onde a ação política destas em prol da institucionalização de práticas e conceitos de estratégia representa o interesse oportunista de manutenção de suas atividades-fim, enquanto atividade legítima e necessária dentro da realidade empresarial.

Importantes elementos no planejamento estratégico representavam uma significativa mudança no pensamento vigente. É por isso que, apesar de se verificar que o que possibilitou o sucesso e a disseminação das técnicas do planejamento estratégico na década de setenta do século passado foi a legitimidade delas auferida pelas idéias de planejamento, precisão científica, controle, pragmatismo e utilitarismo econômico, ela não deixou de representar uma significativa ruptura conceitual e filosófica para a época.

Dionnathan Medeiros, Jorge Mendes, Marton Fernandes

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